Capacitação busca atrair jovens para a gestão participativa
Termina nesta sexta-feira (4) o Curso de Capacitação na Metodologia Verde Perto Educação, que reuniu na capital paraense cerca de 40 pessoas - entre comunitários, gestores de Unidades de Conservação (UCs) federais e parceiros locais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Durante toda a semana, os participantes do curso se voltaram para um objetivo comum: atrair os jovens para a participação social nas UCs, possibilitando a renovação das lideranças comunitárias.
Desde 2011, o ICMBio passou a adotar a metodologia Verde Perto em algumas UCs, com foco no público jovem. A iniciativa foi, então, batizada de Projeto Jovens Protagonistas de Fortalecimento Comunitário.
Diagnóstico
De acordo com a coordenadora de Educação Ambiental do ICMBio, Karina Dino, a escolha desse público alvo teve como motivação o diagnóstico de que havia pouco envolvimento da juventude na gestão participativa das áreas protegidas e seus entornos.
"A ideia do projeto é trazer o jovem para a participação social e fomentar o surgimento de novas lideranças. Nosso objetivo principal é aliar conservação da biodiversidade e organização comunitária aplicada à gestão", explica a coordenadora.
Ainda segundo Karina, esse curso faz parte de uma estratégia mais ampla do Instituto Chico Mendes: promover capacitações de jovens nas UCs, especialmente as extrativistas, com o intuito de fortalecer as comunidades tradicionais.
Contando com o apoio do Projeto Manguezais do Brasil - iniciativa financiada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e coordenada pelo ICMBio -, o evento reuniu representantes de 15 Unidades de Conservação federais.
"Um dos propósitos é levar a metodologia para as nossas UCs costeiras. Os participantes desse curso serão agentes multiplicadores do Projeto Jovens Protagonistas", ressalta Adriana Leão, responsável pelo Manguezais do Brasil.
Oficinas de arte e teatro do oprimido
Durante a capacitação foram realizados debates e palestras sobre temas como gestão ambiental pública e o papel dos jovens na organização comunitária. Os cursistas também puderam trabalhar os assuntos por meio de outras abordagens, como as oficinas de artes e o teatro do oprimido (método que reúne exercícios, jogos e técnicas teatrais com o objetivo de criar condições para que o oprimido se aproprie dessa linguagem e amplie suas possibilidades de expressão e transformação da realidade).
"Esse curso é uma oportunidade de aprender, ensinar, trocar experiências. Na minha comunidade ainda não tem um grupo de jovens, então eu quero levar para lá o que aprendi aqui", conta Roberta Evangelista, 19 anos, moradora da Reserva Extrativista Maracanã (PA).
Para Roberta, a melhor forma de atrair pessoas da sua faixa etária é mesmo através das oficinas e dinâmicas, "porque isso dá ao jovem a possibilidade de falar, de se expressar".
Metodologia Verde Perto Educação
Em 2007, o biólogo e professor Leonardo Rodrigues lançou a seguinte provocação em sala de aula: "Como vocês gostariam de aprender biologia?". A partir daí, começou a desenvolver, com a ajuda de seus alunos, uma nova abordagem de ensino e aprendizagem, a Verde Perto Educação.
Sustentada pelo tripé 'protagonismo juvenil', 'educação lúdica' e 'transdisciplinaridade', a metodologia foi aplicada pela primeira vez em áreas protegidas no ano de 2011. "As primeiras experiências foram na Floresta Nacional de Tefé e nas Reservas Extrativistas do Baixo Juruá e do Rio Jutaí", lembra o professor.
Para ele, um dos fatores responsáveis pela falta de envolvimento da juventude na organização comunitária é o tipo de linguagem adotada na gestão das UCs, que muitas vezes dificulta a comunicação com as populações tradicionais. "Precisamos seduzir o jovem através de um espaço de aprendizado leve e lúdico, utilizando abordagens alternativas, que extrapolem a linguagem técnica institucional", argumenta.
Como exemplo, Leonardo cita as diversas linguagens artísticas: "A metodologia nos permite falar do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) por meio de desenhos, ou abordar Plano de Manejo usando o teatro e a música".
Desta forma, é possível estimular competências e valorizar as capacidades dos jovens, canalizando a energia e o idealismo típicos desse grupo para o enfrentamento dos desafios socioambientais. "Quando o jovem se apropria do seu espaço, do seu território, ele traz soluções e vislumbra alternativas para o lugar", observa.
Participação social revigorada
De 2011 para cá, aproximadamente 1600 jovens moradores e usuários de UCs federais já tiveram contato com o Projeto Jovens Protagonistas através da metodologia Verde Perto - e os resultados saltam aos olhos.
O interesse e a participação dos jovens nas associações comunitárias tiveram crescimento significativo e algumas delas criaram, inclusive, Comitês de Juventude para atender a essa nova demanda.
Nos Conselhos Consultivos e Deliberativos, os frutos do projeto também podem ser notados: em muitos deles já existe a chamada "cadeira da juventude", que inclui membro titular e suplente, com direito a voto.
A Floresta Nacional de Tefé (AM) foi além e criou para os menores de idade o cargo de "conselheiro aprendiz", com direito a voz, mas não a voto.
Outro exemplo de êxito é a Reserva Extrativista de Soure (PA), onde o Projeto Jovens Protagonistas vem sendo implementado há cerca de dois anos.
Para a analista ambiental Gabriela Calixto, os jovens abrem um canal de comunicação entre a gestão da UC e os demais membros da comunidade. "Essa iniciativa permite uma tomada de consciência por parte dos jovens, porque mostra que eles são agentes de transformação daquele espaço. E através do jovem nós conseguimos tocar a família, ampliando de forma geral a participação comunitária", conclui Gabriela.
http://www.icmbio.gov.br/portal/comunicacao/noticias/4-destaques/6974-protagonismo-juvenil-nas-uc-e-tema-de-curso.html
UC:Geral
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