O saldo de 13 dias de incêndios florestais em Petrópolis, na Região Serrana do Rio, foi um prejuízo de uma área de 5.150 hectares devastados que podem levar mais de uma década para se regenerar, segundo especialistas do Parque Nacional da Serra dos Órgãos (Parnaso). Somente na reserva do Parnaso cerca de 1.600 hectares de Mata Atlântica foram devastados. De acordo com o Ibama/RJ, em termos de biodiversidades, as perdas na região atingida pelo fogo no Parnaso ainda são desconhecidas, porque se trata de um ecossistema rico em endemismo, com diversas espécies da flora e da fauna que só existem naquele local.
Na Reserva Biológica de Araras (RBA), a perda foi de 100 hectares, sendo 50 de área interna e 50 na zona de amortecimento (arredores), que corresponde à APA Petrópolis. E quanto aos animais, para o geólogo e chefe da RBA, Ricardo Ganem, a fauna pode demorar ainda mais para se recuperar, pois tem pouca resiliência.
"Diferente das plantas que podem rebrotar, os animais ficam sem o seu habitat. Eles migram e gera um desequilíbrio enorme para o ecossistema. O prazo para essa recuperação é imensurável e depende de cada espécie", observou Ganen.
Na Reserva Biológica de Araras (RBA), os guardas-parques conseguiram impedir que o fogo chegasse aos topos de morro, onde estão espécies raras e desconhecidas. O incêndio, no entanto, deixou muitos animais mortos e outros perderam o habitat. Um filhote de ouriço, de dois meses de idade, foi salvo do fogo.
Três filhotes de gambá também foram acolhidos no mesmo período. Eles estão se recuperando na reserva e em breve serão devolvidos ao seu habitat. No Parnaso, uma paca chegou a pedir socorro aos brigadistas, mas não resistiu. Um ouriço, que teve o rabo e patas queimadas, também foi salvo no combate ao fogo no parque.
Áreas devastadas
As queimadas também atingiram mais de 300 hectares do Monumento Natural Pedra das Flores, em São José do Vale do Rio Preto. O local é uma Unidade de Conservação importante no Mosaico Central Fluminense, entre São José do Vale do Rio Preto e Sapucaia. A área atingida fica onde é a nascente do rio que divide os territórios.
Fotos mostram o que sobrou da unidade, inclusive, em área com floresta ainda em desenvolvimento (confira galeria de fotos ao lado). Um dos registros, feito pelo ambientalista e brigadista, Roberto Perez, chama a atenção.
"Um buraco na terra mostra o poder de destruição do fogo que consumiu a árvore até a raiz. Uma cena triste e são vários desses buracos por toda a parte", lamentou o ambientalista.
Regeneração da Mata Atlântica
O chefe do Parnaso, Leandro Goulart, explica que o Bioma Mata Atlântica é dividido em dois tipos de vegetação nativa: a primária e a secundária, esta última dividida em três estágios de regeneração: inicial, médio e avançado. Segundo ele, a área destruída pelos incêndios nas localidades do Bonfim e Estrada Mata-Porcos, possui uma vegetação secundária em estágio médio de regeneração, o que depende de diversos fatores para estimar um tempo exato para a sua recuperação.
"Isso dependerá de diversos fatores, como a dispersão e rebrota de sementes e da proteção da área para que não ocorra pressão por atividades humanas que impeçam ou dificultem a sua recuperação. De maneira geral, acreditamos que o tempo de regeneração será superior a 10 anos", destacou.
De acordo com o chefe da reserva, já os campos de altitude acometidos pelo fogo, que são compostos por uma vegetação de máxima expressão local, possuidor de um dos ecossistemas mais raros da Mata Atlântica, pode levar menos tempo para se regenerar.
"Embora essa região tenha uma vegetação muito sensível, é mais rápida a sua recuperação, pois ela é mais gramínea, uma vegetação mais arborífera. E por conta do acesso a essa região ser mais limitado, os efeitos das ações antrópicas são mínimos, não afetam significativamente suas características originais de estrutura e de espécies", explicou.
Nascentes foram afetadas
A APA Petrópolis tem áreas de proteção nos quatro distritos da cidade. Mas foi em Itaipava e Pedro do Rio que o maior prejuízo com as queimadas foi registrado. De acordo com Vítor Valente, chefe substituto da APA, com a perda de cobertura vegetal, muitas nascentes de água foram atingidas. Segundo ele, muitas comunidades que fazem a captação direta da água nas nascentes foram prejudicadas neste período.
Perigo com as chuvas
Além do prejuízo com a grande área de vegetação destruída, outra sequela dos incêndios florestais é o perigo de deslizamentos com a proximidade do período das chuvas. O chefe do Parnaso, o ambientalista Leandro Goulart explica que a vegetação possui várias funções de proteção do solo, e uma delas é favorecer a retenção e evaporação da água das chuvas antes que esta chegue ao solo. Outra função é diminuir a velocidade com que a água chega ao solo, o que abranda o poder de erosão da água sobre o solo. Uma vez que essa vegetação foi danificada pelo fogo, ele ressalta, essas áreas ficam mais propensas à erosão pelas chuvas, podendo inclusive ocorrer escorregamentos de terra.
http://g1.globo.com/rj/regiao-serrana/noticia/2014/10/vegetacao-deve-demorar-10-anos-para-se-regenerar-apos-queimada-na-serra.html
UC:Parque
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