Salobo deve atingir pleno ritmo até o fim do ano

Valor Econômico, Empresas, p. B3 - 06/03/2015
Salobo deve atingir pleno ritmo até o fim do ano

Por Francisco Góes

Salobo, o maior projeto de cobre da Vale, continua em fase de crescimento da produção em sua unidade integrada por mina a céu aberto e usina de beneficiamento em Marabá, sudeste do Pará. A primeira fase do projeto, conhecida como Salobo I, entrou em operação em 2012 com capacidade de 100 mil toneladas anuais de cobre em concentrado. Em maio de 2014, começou a operar Salobo II, para produzir mais 100 mil toneladas por ano. "Imaginamos que a partir do fim de 2015 estaremos operando em ritmo de capacidade nominal [de 200 mil toneladas anuais] de cobre contido em concentrado", disse José Leitoguinhos, diretor de operações de Salobo.
O projeto foi construído com investimentos totais estimados em US$ 4,2 bilhões. Mas economias na implantação permitiram reduzir um pouco esse valor, disse Leitoguinhos, sem revelar o número final gasto no empreendimento. Embora os planos para desenvolver Salobo fossem mais antigos, as obras da sua primeira fase só começaram em 2007.
Hoje, o crescimento da produção de Salobo coincide com um cenário de mercado adverso para o cobre, um dos metais mais utilizados no mundo. O cobre é empregado em geração e na transmissão de energia, em fios e em praticamente todos os equipamentos eletrônicos, como televisores e telefones celulares. O cobre é um dos metais com pior desempenho no ano, com cotações inferiores a US$ 6 mil por tonelada. Mas há previsões de que o metal vai se recuperar, podendo chegar a US$ 6,3 mil por tonelada no quarto trimestre.
Embora o foco da Vale seja atingir a capacidade nominal de produção, a empresa vem analisando sinergias que podem ser exploradas nas diferentes etapas do processo de produção de Salobo. Essas sinergias podem permitir à companhia ampliar a produção da unidade, para além das 200 mil toneladas anuais de concentrado de cobre (o produto final), com investimentos relativamente baixos. Leitoguinhos disse, porém, que não há decisão tomada na Vale sobre essa possível ampliação de Salobo. Em 2014, a unidade produziu 98 mil toneladas de cobre em concentrado, 51% a mais do que as 65 mil toneladas do produto em 2013.
O cobre em concentrado de Salobo, um produto intermediário na cadeia de produção, se assemelha a uma areia escura e contém ouro. Esta semana a Vale anunciou que assinou com a canadense Silver Wheaton um aditivo a um acordo firmado entre as duas empresas em 2013 segundo o qual a mineradora brasileira se compromete a vender aos canadenses adicionais 25% dos fluxos de ouro pagável produzidos como subproduto da mineração em Salobo. A Vale vai receber US$ 900 milhões e pagamentos futuros por onça de ouro entregue à Silver Wheaton. A Vale poderá também receber pagamento adicional em dinheiro, dependendo da decisão de expandir a capacidade de processamento do minério de cobre de Salobo para mais de 28 milhões de toneladas/ano antes de 2036.
No fim de 2015, a usina de beneficiamento de Salobo deverá estar funcionando em ritmo de 24 milhões de toneladas anuais de minério de alto teor processadas, disse Leitoguinhos. Esse volume de produção, representando a capacidade plena da planta, será assegurado em 2016.
A Vale, embora não seja líder de mercado neste segmento, assim como é no minério de ferro e no níquel, está entre os dez maiores produtores globais de cobre. A mineradora vende o concentrado de cobre para fundições (smelters) no exterior. A Vale produz concentrado de cobre no Brasil, no Canadá e na Zâmbia. No Brasil, a produção está concentrada em Carajás, sudeste do Pará, onde há duas unidades em produção: Salobo, em Marabá, e Sossego, em Canaã dos Carajás. Sossego opera há dez anos e a produção da planta está estabilizada em pouco mais de 100 mil toneladas/ano. Salobo ainda persegue o aumento da produção.
A usina e a mina de Salobo situam-se dentro da Floresta Nacional Tapirapé-Aquiri (Flonata), unidade de conservação federal. A mina, escavada a céu aberto, compreende uma só cava. Quando chegar ao fim da vida útil, o que foi estimado em horizonte de 50 anos, a mina terá 660 metros de profundidade, 1,4 quilômetro de largura e 3,5 quilômetros de comprimento. A lavra é feita por perfuratrizes de grande porte e por escavadeiras que carregam caminhões fora de estrada de até 240 toneladas. O cobre está contido em rochas graníticas, o que exige mais trabalho com perfuração e detonação do que em mina de minério de ferro.
Depois de lavrado, o minério é transportado pelos caminhões até a britagem (primária e secundária) onde as rochas entram com 1,20 metro de comprimento e têm o seu tamanho reduzido. Da britagem, o minério segue para a usina via um transportador de correias tubular (fechado), com 1,8 quilômetro de extensão, para evitar queda de produto sobre um curso d'água, o igarapé Salobo, dentro da Flonata.
Na etapa seguinte, o minério chega ao "roller press", equipamento formado por dois rolos, que giram em sentidos opostos, fragmentando o produto. O minério passa ainda por moinhos e por uma bateria de ciclones até chegar às áreas de flotação e filtragem, etapa final do processo, que resulta em um concentrado: uma partícula de 0,05 milímetro e teor de cobre entre 36% e 40%.
Leitoguinhos disse que a previsão é extrair da mina de Salobo 118,8 milhões de toneladas em 2015, entre minério e estéril (material de baixo teor que é descartado). Enquanto o minério de teor mais alto vai para a usina para ser beneficiado, o estéril é armazenado em pilhas de estéril para aproveitamento futuro.
Leitoguinhos falou sobre uma possível nova expansão: "Agora temos que atingir 24 milhões de toneladas de massa processada. A partir daí, imaginamos pontos de melhoria que podemos fazer mais à frente no processo e que podem até aumentar a capacidade. Mas esse não é o objeto atual." De Marabá, o cobre em concentrado segue por rodovia até o terminal ferroviário da Vale em Parauapebas (PA), de onde o material é transportado pela Estrada de Ferro Carajás (EFC) até o terminal marítimo da empresa em Ponta da Madeira, no Maranhão.

Valor Econômico, 06/03/2015, Empresas, p. B3

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