Zoo e Parque Itapuã na lista das privatizações do governo Sartori

Sul 21 - http://www.sul21.com.br/ - 02/04/2015
Espaço de lazer, educação ambiental e preservação de espécies e local visitado por gerações de gaúchos, o Parque Zoológico do Rio Grande do Sul poderá ser repassado à iniciativa privada para exploração comercial. O local é um dos que estão sendo estudados dentro da política de Parceria Público Privada (PPP) do governo José Ivo Sartori. Trata-se de uma medida injustificável na avaliação do ex-diretor do Zoo, Sergio Viero. "Privatizar é abrir mão do caráter público e social do zoológico. Hoje ele funciona bem como local de preservação de espécies vítimas de exploração comercial e tráfico de animais, não se compram bichos para exposição lá. Não tem porque terceirizar", defende.

A intenção do governo com a concessão foi admitida pelo vice-governador, José Cairolli, em palestra nesta semana no Sindicato das Indústrias da Construção Civil no Estado do Rio Grande do Sul (SindusconRS). A secretária estadual do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Ana Pellini, confirma o interesse empresarial no Zoo, mas salienta que a intenção "é preservar o caráter público de preservação ambiental".

Segundo a secretária, "a empresa administraria a bilheteria e os espaços a serem explorados comercialmente para melhor atender a população, como banheiros, restaurante e praça de alimentação variada". Ana Pellini disse que a visitação é considerada baixa atualmente e poderia ser potencializada para atrair mais público, como acontece no zoológico de Gramado, no Parque Foz do Iguaçu (Paraná) e o Central Park (EUA), exemplifica.

Funcionários temem a terceirização

Funcionários antigos e os recém-admitidos no último concurso público da Fundação Zoobotânica, realizado no ano passado, estão desconfiados das intenções do governo. Alguns visitantes também se manifestaram contrários à medida pelas redes sociais. "O Zoo de Sapucaia faz parte da minha infância e acredito que da infância de muita gente. Lembro da primeira e da última vez que lá estive. Está abandonado nestes últimos três meses, segundo funcionários e visitantes. O governo agora quer torná-lo algo lucrativo para uma empresa? ", indaga o historiador Emerson Kalmo.

O ex-diretor do Zoo RS discorda da existência de qualquer sucateamento no equipamento público oferecido atualmente à população. "Foram adquiridas 130 churrasqueiras com mesas individuais e recuperada a pracinha infantil e a casa de bonecas nos últimos anos. Existe um comprometimento muito grande dos 75 funcionários do parque para manter os recintos dos animais em condições e os demais espaços limpos e adequados", fala Sergio Viero.

Segundo ele, a arrecadação da bilheteria do parque era, até dezembro de 2014, de R$ 3 milhões. "Fizemos um reajuste de valor, mas para alcançar algumas melhorias de preservação do espaço. Porém, o preço continua acessível. Existe uma fábrica própria dentro do parque para reparos nos recintos dividida já com uma empresa terceirizada e os demais profissionais de carreira. Isto possibilitou adequação dos recintos com barreiras naturais sem grades ou cercas. Fizemos quatro ilhas naturais", explica.

Preço do ingresso vai aumentar com a PPP

Atualmente os valores para ingresso no Zoológico são variam de R$ 9,00 (adultos) a R$ 285 os ônibus de turismo. Ônibus escolares, estudantes, idosos e crianças têm isenção ou preços reduzidos. Segundo o ex-diretor do Zoo, o local recebe 500 mil pessoas por ano. Com a concessão, os valores "certamente sofrerão reajustes, mas não podemos ter tudo que gostaríamos" argumenta a secretária Ana Pellini. No entanto, ela afirma que a intenção do governo com a PPP no parque "não inclui o trato com os animais e recintos, que serão administrados pelos veterinários e biólogos do Zoo". Para ela, existe certo exagero na crítica quando se fala em PPP que "são modelos já anunciados desde o começo do governo que serão potencializados, o Zoo é apenas um exemplo estudado pela administração estadual".

Parque é mais do que os bichinhos para visitação

Atualmente, o Zoo possui animais da América, Ásia, Europa, África e Oceania. São cerca de 130 espécies que somam mais de mil exemplares. Desde 1973, é um órgão vinculado à Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, assim como o Museu de Ciências Naturais e o Jardim Botânico, em Porto Alegre. A administração pública está garantida pela Lei Estadual n.o 11.363, de 29 de julho de 1999.

Além dos 50 hectares que funcionam para visitação do público para conhecer os animais, o parque abriga a Reserva Florestal Padre Balduíno Rambo, localizado do outro lado da BR-116 entre os municípios de Sapucaia do Sul e São Leopoldo. A constituição principal da Reserva Florestal é composta por diversas espécies de eucaliptos e por um sub-bosque de espécies nativas. A secretária estadual do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Ana Pellini não soube precisar o que será feito com esta área. "Queremos dar utilidade a ela, mas ainda não sabemos qual", disse.

Itapuã

Outro espaço a se tornar uma PPP é o Parque Estadual de Itapuã, em Viamão. Em funcionamento parcial desde o final do ano passado, por conta da ausência de empresa de vigilância, o espaço poderá ser administrado por empresa privada futuramente. "Desde o começo do governo anunciamos a intenção de concessões para melhor atender a população. Este é outro exemplo entre os tantos locais que estão sendo estudados. A ideia é prestar melhor serviço e conforto pra atração de mais visitantes", argumenta Ana Pellini.

Com cerca de 900 hectares situados em Sapucaia do Sul, a área do Parque Zoológico pertencia à Companhia Geral de Indústrias e, em 1930, foi adquirida pelo Estado. Em 1934 o espaço foi consolidado como uma propriedade da antiga Viação Férrea do Rio Grande do Sul. Mais de 25 anos depois, no dia 16 de março de 1957, foi promulgada pelo presidente Juscelino Kubitschek a Lei Federal no 3.115 passando todos os bens da Viação Férrea para a União. Somente a área atual do Zoológico permaneceu sob domínio do Rio Grande do Sul.



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