'É possível reverter a pororoca no rio Araguari', diz engenheira florestal do Amapá

Portal Amazônia - http://portalamazonia.com - 16/07/2015
Fenômeno não ocorre na foz do rio há dois anos. Patrícia Pinha destaca que a restauração do leito do rio levará tempo e investimento


A Amazônia é repleta de belezas, mas o desenvolvimento desenfreado reflete na natureza. O último exemplo é a extinção do fenômeno da pororoca na foz do rio Araguari que integra a Reserva do Lago Piratuba (distante a 250 quilômetros do Macapá). A engenheira florestal e chefe da Reserva, Patrícia Pinha, enfatiza que a restauração do leito do rio levará tempo e investimento.

O fenômeno natural -ocasionado pelo encontro da água do mar com a do rio-, ergue grandes 'ondas' e chama a atenção de turistas pelo mundo, principalmente dos surfistas. A chefe da Reserva do Lago Piratuba explicou que a pororoca no rio Araguari não ocorre há dois anos. "Desde 2013 a pororoca não acontece, mas apenas agora a mídia está divulgando a situação. A principal causa está relacionada a abertura de vários canais de drenagem na margem direita do rio realizado pelos pecuaristas", explicou em entrevista ao Portal Amazônia.

Criada em 16 de julho de 1980, a Reserva do Lago Piratuba passa pela primeira situação de risco. A engenheira florestal destaca que o retorno do fenômeno não é impossível. "Mas as aberturas produzidas pelos pecuaristas são grandes, ou seja, os canais drenaram todas a água. Vai ser preciso priorizar as pesquisas e principalmente dinheiro para reverter a situação", destacou.

Acúmulo de problemas

Além da extinção da pororoca, a drenagem do rio Araguari acarretou outros problemas, como a demarcação do limite da área protegida do leito. Outro fator preocupante é a travessia dos búfalos pelo rio e a invasão da reserva. "Aconteceu uma ligação entre uma margem e outra, e criou essa 'porta de entrada' para os animais", revelou Patricia.

O geógrafo, Gesiel Oliveira, afirma que a bubalinocultura, criação de bubalinos, é parte dos problemas, porém a aceleração do assoreamento, normalmente provocado pela ação predatória do homem aconteceu por causa do desmatamento da mata ciliar, construção de hidrelétricas e a ocupação das margens por obras irregulares, além da ampliação do fenômeno das terras caídas.

Oliveira viajou até o rio Araguari para coletar informações técnicas e garantiu que é impossível realizar o trajeto entre os municípios de Cuitas e Ferreira Gomes através de grandes barcos. "Só as rabetas conseguem passar por essas regiões. O assoreamento afetou de tal forma o rio que parte do trajeto mede cerca de 40 a 30 cm de profundidade, impossibilitando totalmente a navegação", explicou.

Desde dezembro de 2013, o geógrafo mantém um blog e o primeiro artigo escrito para a plataforma abordava a situação e os riscos de uma possível extinção. "Alertei as autoridades e, principalmente, a sociedade sobre a gravidade do problema, mas nada foi feito e agora estamos vivendo um momento em que pouco se pode fazer para reverter tudo isso", observou.

Desolação

O presidente da Associação Brasileira de Surfistas da Pororoca, Noélio Sobrinho, já teve oportunidade de surfar mais de 50 vezes no Amapá e garante estar decepcionado com o descaso das autoridades. "Já vem acontecendo há algum tempo e ninguém consegue culpar os responsáveis, com a pressão da imprensa espero que as coisas mudem de figura", afirmou.



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