Indígenas do Xingu vão avaliar mobilização em Brasília contra construção de hidrelétrica
Os cerca de 130 indígenas de várias etnias, do Parque Indígena do Xingu, de Mato Grosso, vieram para Brasília (DF), sob a intermediação da Funai, pra conversar com diversas autoridades, principalmente do Ibama, Ministério do Meio Ambiente, do Ministério Público Federal e o presidente da Câmara, Aldo Rebelo. Nesta sexta-feira (9), uma das lideranças indígenas, Pablo Kamaiúra, afirmou que o grupo vai aguardar a decisão da Justiça sobre o caso e debater com as etnias o próximos passos da mobilização.
Os indígenas são contra a construção da Pequena Central Hidrelétrica Paranatinga 2, que está sendo construída a apenas dois quilômetros da Reserva Ecológica Estadual do rio Culuene. No dia 31 de maio, 300 indígenas de dentro e de fora do Parque Indígena do Xingu ocuparam o trecho do rio Culuene, onde a barragem está sendo construída. Essa construção está sendo feita em local considerado sagrado para esses indígenas, pois lá foi realizado o primeiro Quarup, uma cerimônia que as tribos fazem homenagem a chefes mortos, e é realizada na estação seca. Além disso, os indígenas temem que a hidrelétrica prejudique a reprodução das espécies de peixes, seu principal hábito alimentar.
Após a ocupação da hidrelétrica, os indígenas conseguiram, na justiça local, interditar a obra. Mas essa interdição é provisória, porque cabe recurso contra a decisão e o Tribunal Regional Federal pode modificá-la. De acordo com o indígena do Parque Indígena do Xingu, Pablo Kamaiúra, a mobilização em Brasilia possibilitou audiências no Judiciário, com o deputado petista Eduardo Valverde e com o presidente da Câmara, Aldo Rebelo.
"Nós viemos na tentativa de buscar essa solução. Mas até agora, na última reunião com o presidente da Câmara, nós não obtivemos a posição concreta da parte dele, ele não nos disse se iria apoiar a paralisação definitiva dessa obra. Nós demos um tempo para a Justiça resolver. Se for aplicado essa justiça ou não, aí o movimento vai tomar uma outra decisão, que a gente não tem aqui agora. Vamos ter que nos reunir depois de todas essas audiências, avaliar os resultados positivos, pra gente tomar uma outra decisão", disse.
Segundo o deputado federal Eduardo Valverde (PT-RO), essa situação gerou um conflito de interesses que precisa ser, de maneira cautelosa, dada uma solução. "São dois interesses que se conflitam: um que é da empresa em gerar energia elétrica com intuito lucrativo, de abastecer o sistema elétrico nacional e com isso oferecer a população energia elétrica mais barata; e o interesse dos povos indígenas, que podem ser afetados com essa construção, que são seus costumes, seus usos, suas tradições e sua base alimentar, que são bem desprotegidos pela Constituição Federal", completa.
Na quinta-feira (8), segundo o deputado, a reunião com Aldo não pode trazer grandes avanços para a reivindicação dos povos do Xingu. "O presidente disse ponderadamente que não tem como se posicionar. O que pode ser feito aqui na Câmara é a aceleração da aprovação do Estatuto dos Povos Indígenas", disse. (Paula Catarina/ Rádio Nacional da Amazônia)
Ambientebrasil, 09/06/2006
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