CB, Cidades, p. 27 - 19/08/2006
Brasília sob fogo cerrado
Os bombeiros combateram e apagaram 35 focos de incêndios nos arredores da capital.
O mais grave consumiu área equivalente a 12 campos de futebol, no Parque Burle Max
Nuvens de fumaça escureceram o céu de Brasília no dia mais seco do ano. A umidade relativa do ar chegou a 16% e a temperatura teve máxima de 30oC e mínima de 16oC. Até o final da tarde de ontem, o Corpo de Bombeiros atendeu a 35 ocorrências de focos de incêndio. A mais grave foi no Parque Burle Marx, na Asa Norte, onde as chamas devastaram uma área equivalente a 12 campos de futebol. Essa foi a quarta vez, em duas semanas, que o parque pegou fogo. Bombeiros desconfiam que o incêndio teve origem criminosa e pensam em fazer acordo com a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos para aumentar a fiscalização na área.
Troncos enegrecidos e o solo coberto de cinzas já ocupam boa parte do Parque Burle Marx, como rastros de devastação deixados pelos outros três incêndios. Ao todo, contando com o de ontem, uma área equivalente a 24 campos de futebol se encontra destruída.
O fogo começou às 11h20. Para apagar as chamas, foram necessárias a atuação de 35 bombeiros, dois caminhões equipados com mangueiras e três veículos. A aeronave usada para combater as chamas não pôde ser usada por se encontrar na manutenção. Mas um helicóptero sobrevoou a área e orientou as equipes de campo sobre os pontos mais críticos. O fogo só foi completamente extinto às 17h42.
Setor de Clubes
Outro incêndio de grandes proporções foi combatido em um matagal atrás do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Setor de Clubes Sul. Além da enorme nuvem de fumaça que cobriu umdos pontos centrais do Plano Piloto, labaredas podiam ser vistas de pontos distantes como o Lago Sul. O fogo começou por volta das 13h e só foi controlado às 16h30.
Aproximadamente 15 bombeiros, com abafadores e bombas costais, atuaram no local. Um caminhão com capacidade de armazenamento de 6,7 mil litros d'água também forneceu auxílio para apagar as chamas. Várias técnicas foram utilizadas para acabar com o incêndio. Além de lançar jatos d'água nos pontos onde as labaredas eram mais intensas e bater com abafadores em outros pontos de menor intensidade, eles também utilizaram o método de combater fogo com fogo. Nessas situações, eles incendeiam uma área que ainda não foi afetada e esperam que os dois fogos se encontrem e se extingam naturalmente.
O Tenente Fabiano Mendes Lins, do 1o Batalhão e responsável pela operação de ontem, acredita que o incêndio foi criminoso.
"Quando chegamos no local, percebemos vários focos espalhados pelo terreno. Isso indica que, possivelmente, alguém saiu colocando fogo no mato", argumentou. O laudo com as causas do incêndio, no entanto, só sai em 15 dias. Até o fechamento dessa edição, os bombeiros não sabiam informar o tamanho da área devastada.
O fogo assustou vários catadores de papel que moram na área. Eles chegaram a combater as chamas nos pontos em que se aproximavam de suas casas e do produto com o qual trabalham.
Mas os prejuízos foram inevitáveis. Uma mulher calcula que perdeu em torno de R$ 60 a R$ 70 com uma pilha de papel que virou cinzas antes que pudesse fazer alguma coisa. O resto dos catadores trataram de afastar o material inflamável dos pontos mais próximos das chamas para não correr o mesmo perigo. Morador do local há 12 anos, José Ferreira da Paz, 43 anos, disse estar acostumado com os focos de incêndio no mato. "Na época da seca, sempre esperamos por uma ou outra queimada. Tivemos sorte dessa vez que o vento levou o fogo para o outro lado", comentou.
Os incêndios são mais comuns nessa época do ano, quando o período de seca chega ao auge. A baixa umidade do ar deve continuar até o fim do mês. O Instituto de Meteorologia (Inmet) espera que o período de chuvas se inicie a partir da metade de setembro. A previsão para hoje é de céu claro a parcialmente nublado e névoa seca, com temperatura máxima de 30oC e mínima de 16oC. A umidade do ar deve variar entre 60% a 20%.
Reforço na prevenção
No dia em que as chamas arderam na vegetação de cerrado do Distrito Federal, a assinatura de uma portaria pela Secretaria de Administração de Parques (Comparques) e Corpo de Bombeiros garantiu reforço na prevenção e no combate ao incêndio no Jardim Botânico de Brasília. O documento estabelece que um destacamento de 16 bombeiros ficará responsável pela região.
A reserva ecológica deve contar sempre com uma equipe de quatro homens presentes durante 24 horas por dia no local - de abril a novembro. No período chuvoso, a equipe ficará no local durante o dia.Além de trabalharem na detecção de focos de incêndio, os bombeiros irão ensinar aos 28 brigadistas do Jardim Botânico técnicas de combate ao fogo.
Em setembro do ano passado, um incêndio destruiu 3.140 hectares de cerrado e 30 hectares de mata ciliar na reserva ecológica. A previsão é que a mata leve mais de 10 anos para se recuperar. "Grande parte dos incêndios pode ser debelada se o combate inicial ao fogo for eficiente. Com uma equipe de bombeiros 24 horas presente, esperamos que desastres como o do ano passado não se repitam", afirmou a diretora do Jardim Botânico, Anajúlia Heringer.
"Preservar essa área é uma responsabilidade de todos nós. O Jardim Botânico é a garantia que temos de manter a qualidade de vida na cidade daqui a 50 anos", declarou o secretário da Comparques, Ozanan Coelho. (PR)
CB, 19/08/2006, Cidades, p. 27
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