O Globo, Rio, p. 36 - 15/12/2006
Mosaicos unem áreas protegidas no estado
Novo sistema possibilita a formação de corredores ecológicos; as três unidades fluminenses somam 9 mil km2.
Túlio Brandão
A Mata Atlântica do estado ganhou a proteção de uma eficiente colcha de retalhos. Um decreto, publicado na terça-feira no Diário Oficial da União, criou os três primeiros mosaicos de unidades de conservação da natureza. Um deles - Mosaico da Mata Atlântica Central Fluminense - reúne áreas protegidas fluminenses e os outros dois - mosaicos da Bocaina e da Mantiqueira - espalham-se por mais de um estado. A modalidade de unidade de conservação prevê a reunião de parques, reservas biológicas, reservas particulares do patrimônio natural (RPPNs) e outras terras protegidas para a formação de um corredor ecológico contínuo.
Mosaico beneficiará espécies como a onça pintada
O projeto foi montado com a participação de várias entidades da sociedades civil, de gerentes de unidades das três esferas de governo e de administradores de RPPNs, entre outros. Breno Herrera, chefe da Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim, que pertence ao Mosaico da Mata Atlântica Central Fluminense, enumera as vantagens das três novas unidades:
- Os mosaicos devem ser como um grande frankstein que dá certo. Com a integração, surge a possibilidade de reunir os quadros funcionais e a infra-estrutura, que muitas vezes, isoladamente, são insuficientes na gestão de unidades. Outra questão básica é a conservação da Mata Atlântica, já que a junção das áreas protegidas garante a existência de um corredor ecológico por onde pode transitar a biodiversidade. A onça pintada e outras grande espécies, por exemplo, precisam de uma área de circulação inexistente em apenas uma unidade. E, por fim, ainda possibilita práticas sócio-ambientais em comunidades localizadas entre as áreas protegidas. Sempre tivemos ilhas da fantasia de conservação dentro de algumas unidades. Agora, isso vai estar integrado.
O projeto de apoio ao decreto foi coordenado pelo Instituto Amigos da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. Juntos, os três mosaicos somam 51 unidades de conservação em 9 mil quilômetros quadrados - uma área equivalente a nove vezes a capital do estado. O Central Fluminense, todo no estado do Rio, tem 2.330 quilômetros quadrados, corta 13 municípios e conta com 22 áreas protegidas.
O Mosaico da Mantiqueira ocupa uma área de 4.456 quilômetros quadrados de 19 unidades de conservação em 37 municípios dos estados do Rio, de São Paulo e de Minas Gerais. O da Bocaina tem 2.217 quilômetros quadrados e está espalhado por 10 áreas protegidas de nove municípios fluminenses e paulistas.
Modalidade de unidade de conservação criada na Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, o mosaico foi implantada também no Piauí e em unidades entre os estados de São Paulo e Paraná. O gerente regional do Ibama no Rio, Rogério Rocco, comemorou o decreto federal que cria as três novas unidades:
- Para a gente, é um avanço fundamental. O Rio é a unidade federativa com maior número de áreas protegidas dentro da Mata Atlântica. São 16 unidades federais, 27 estaduais, pelo menos 120 (já levantadas) municipais e, ainda, 41 RPPNs. O mosaico é uma forma de aproveitar esse número para formalizar uma atuação compartilhada. Sabemos que cada unidade de conservação tem os seus problemas e desafios, mas a integração pode ser positiva. Tivemos uma demonstração do potencial de união porque a criação foi decidida por diversos atores, que se uniram em torno do mosaico.
Rocco garante que a criação das novas áreas não tira a autonomia de nenhuma das unidades. Maurício Lobo, presidente do Instituto Estadual de Florestas (IEF), que tem duas unidades sob sua administração no Mosaico Central Fluminense - Parque Estadual de Três Picos e a Reserva Biológica de Araras - acha que o mosaico não pode avançar sobre as particularidades de cada unidade:
- Eles valerão a pena se cumprirem o papel da criação de políticas em comum entre as unidades, mas não podem de maneira alguma substituir as ações específicas da gestão de cada unidade. Cada uma tem a sua particularidade.
Bruno Coutinho, da Cooperativa de Trabalho Estruturar, uma das ONGs envolvidas no projeto do Mosaico Central Fluminense, cita alguns projetos propostos para a nova unidade, que estão à espera de financiamento: - Pretendemos, entre outras ações, capacitar o futuro conselho de administração da unidade para a gestão integrada, formar um banco de dados, fazer um diagnóstico ambiental da área protegida, coletar sementes, produzir mudas nativas da Mata Atlântica e reflorestar margens de rios.
Financiadores estrangeiros bancaram custo do projeto
O projeto dos mosaicos contou com o recursos de US$ 100 mil do Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos, formado por cinco financiadores estrangeiros - Conservação Internacional (CI), Fundo para o Meio Ambiente Global (GEF), Governo do Japão, Fundação Mac Arthur e Banco Mundial. A coordenadora local do fundo, Nana Reis Lamas, disse que o dinheiro foi utilizado na pesquisa para a criação do dossiê que deu suporte ao projeto: - Agora estamos batalhando para ter novas verbas para a gestão dessas unidades. Não será fácil, porque há muitas áreas de extrema importância biológica, além da Mata Atlântica, ainda não contempladas com verbas de fundo.
O Globo, 15/12/2006, Rio, p. 36
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