Morte de líder seringueiro em Rondônia está sem investigação

Radiobrás / amazonia.org.br - 04/01/2006
A Polícia Civil de Rondônia ainda não começou as investigações sobre a morte do presidente da Associação de Seringueiros do Vale do Anari (Asva), João Batista, assassinado em 26 de dezembro.

"Estamos a 70 quilômetros de Vale do Anari e temos só uma viatura, que está quebrada. Ela irá para conserto em Porto Velho amanhã e deve retornar na sexta-feira", justificou o delegado Lobo, responsável pela delegacia de Machadinho D’Oeste, que cobre também a área de Vale do Anari, onde ocorreu o crime.

Para a Organização dos Seringueiros de Rondônia (OSR), que reúne dez associações extrativistas do estado, o crime foi político. "O Batista era uma grande liderança, que prestava serviço à comunidade e estava trabalhando na liberação do plano de manejo da reserva extrativista do Acariquara", contou Geraldo Menezes, vice-presidente da OSR e secretário-geral do Conselho Nacional de Seringueiros (CNS). "A reserva é rica em madeira de lei nobre, cedro e ipê. A terra é muito fértil e há presença de minérios, como o manganês. O Batista vinha denunciando a invasão de grileiros, o roubo de madeiras e as tentativas de mineração", completou.

Medo

Segundo o presidente da Associação de Moradores da Reserva Extrativista Rio Preto Jacundá (Asmorex), Antônio Teixeira, fazia tempo que Batista estava amedrontado. Ele disse ainda que vizinhos de Batista ouviram disparo de tiros por volta das 22 horas do dia 26 - e, no dia seguinte, encontraram o seringueiro morto em sua casa, só de cuecas. "Quem o matou devia ser conhecido dele. Além dos garimpeiros, madeireiros e grileiros, o Batista tinha conflitos com a própria família", avaliou Teixeira. "Ainda que o crime não tenha sido político, ele nos deixa com medo, porque é mais um para a lista dos casos impunes".

A Reserva Extrativista (Resex) do Acariquara é uma unidade de conservação estadual, criada em 1995. Nela vivem cerca de 47 famílias, em uma área de pouco mais de 10 mil hectares, no município de Vale do Anari (RO). Batista trabalhava na reserva, mas morava em uma área de regularização fundiária do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), conhecida como Linha de Escoamento 74.

Grileiros

De acordo com Menezes, há cerca de três meses outro seringueiro da região foi assassinado, dentro da reserva. "Os grileiros tentaram comprar a terra do Carlos Góes, que morava há mais de 25 anos na área. Ele não vendeu. Pouco tempo depois foi morto a facadas e incendiado junto com seu barraco", lembrou. "Até agora as investigações não avançaram", completou Menezes. O delegado Lobo declarou à Radiobrás que não lembrava detalhes desse crime e pediu mais tempo para pesquisá-los.

"A culpa por todas essas mortes é do governo estadual, que não tem interesse nas reservas extrativistas e só se preocupa com o agronegócio", acusou Menezes. "Essa acusação é um absurdo. O governo de Rondônia, como em qualquer outro estado do país, tem dificuldades com a segurança. Nossa área é muito grande e a infra-estrutura é precária. Fazemos o que podemos, dentro das nossas condições, mas não somos omissos", defendeu o diretor de comunicação do governo, Sérgio Pires.

Impunidade

Uma mensagem da OSR enviada à lista de discussão da Rede Grupo de Trabalho Amazônico (Rede GTA) - que reúne mais de 600 associações e sindicatos da Amazônia - informava que em setembro Batista esteve em Brasília, onde se reuniu com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. "A comitiva entregou documentos que denunciavam a violência e a impunidade dos crimes em Rondônia. Também pediu apoio do governo federal para as reservas extrativistas estaduais, que estão abandonadas", detalhou Teixeira, que também participou do encontro.
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