OESP, Vida, p. A26 - 09/03/2008
Zôo cria passarela destinada a primatas
Objetivo é evitar morte de bugios que hoje cruzam avenida em SP
Marcela Spinosa
"Transbugio". Esse nome diferente será dado à passarela para a travessia de macacos da espécie bugio, que vivem soltos em uma área de mata atlântica em frente ao Zoológico de São Paulo, na zona sul da capital. Atualmente, eles atravessam a movimentada Avenida Miguel Estéfano, que recorta a área de quase 900 mil metros quadrados do Parque Estadual Fontes do Ipiranga, onde fica o zôo, para buscar alimento e abrigo.
Alguns já morreram atropelados ao tentar cruzar a via. O projeto da ponte já está pronto. Falta agora encontrar um patrocinador que financie os R$ 21 mil para a implantação da passarela.
A idéia da "transbugio" foi desenvolvida pelo biólogo do zôo Guilherme Domechelli. Em setembro do ano passado, ele viu um bugio ser atropelado na Miguel Estéfano. O animal não teve ferimentos graves. Saiu rolando pela via e voltou para a mata. "Tivemos um caso de um macaco que morreu depois de ser atingido por um carro e um terceiro animal que, após ser atropelado, veio para a veterinária do zôo e, depois de tratado, foi solto na mata", conta.
A Avenida Miguel Estéfano é uma movimentada pista sinuosa de mão dupla. Em toda sua extensão não há lombadas para os motoristas reduzirem a velocidade. "A idéia é que a passarela impeça os animais de cruzarem a via pelo asfalto. Do zôo vemos os bugios caminhando pelos fios de telefone. Eles não gostam de andar no chão e se sentem mais seguros ao andar pelo 'ar'", explica Domechelli.
O biólogo estima que vivem na mata pelo menos dez famílias de bugios. Cada uma delas normalmente é formada por oito animais. "E a cada ano o número deles tem crescido, o que quer dizer que eles estão se reproduzindo."
A PROPOSTA
Para implantar a "transbugio", serão usados dois postes de eucalipto tratado com dez metros de altura. Um deles será colocado na área interna do zoológico e o outro atrás do muro que separa a avenida da mata. Para ligar um lado ao outro serão usadas cordas e pedaços de madeira com um espaço entre elas para os animais se apoiarem.
Das pontas dos postes sairão algumas cordas que serão amarradas nas árvores para os animais entrarem e saírem da passarela. "Os bugios são inteligentes. Eles vão perceber rápido que ali é uma passagem para eles", diz Domechelli. "Também temos outros animais, como a preguiça, que também serão beneficiados."
Para serem implantados, os postes de energia elétrica que existem no local terão de ser rebaixados para uma altura de seis metros. Os fios de eletricidade também terão de ser modificados. Um choque na fiação pode chegar a 13 mil volts. "Usaremos uma tecnologia chamada cabos pré-reunidos. Os três fios que existem no local serão colocados dentro de um único", conta o diretor da regional Norte da Eletropaulo, José Oliveira.
Os motoristas que passarem pela Avenida Miguel Estéfano poderão ver os bugios atravessando a passarela quando ela estiver pronta. Também serão colocadas placas com o nome do futuro patrocinador e uma explicação sobre a "transbugio", além de algumas características desses primatas. "Percebemos que o número de animais tem aumentado. A avenida é uma barreira para eles", diz o diretor-presidente do zôo, Paulo Bressan.
OUTRAS PONTES
A "transbugio" não é privilégio dos macacos paulistanos. O biólogo Domechelli se inspirou na ponte feita para os bugios que vivem em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Lá, os macacos habitam a Reserva Biológica do Lami.
Desde 1999, seis bugios morreram ou foram mutilados após serem de vítimas de choques elétricos. Outros, foram mordidos por cachorros ou atropelados.
Para tentar acabar com o número de acidentes, o Programa Macacos Urbanos (PMU), desenvolvido por uma equipe multidisciplinar de pesquisa científica e ativista na conservação dos bugios da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, construiu a ponte para travessia dos animais.
Em 2003, o PMU e uma organização não-governamental fizeram uma denúncia ao Ministério Público solicitando a responsabilização da Secretaria de Meio Ambiente de Porto Alegre e da Companhia Estadual de Energia Elétrica por eventuais danos causados à fauna. Após apurar o caso, o MPE decidiu que a fiação de 20 ruas deveria ser isolada e o custo das obras teve ser dividido entre a secretaria e companhia.
OESP, 09/03/2008, Vida, p. A26
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