Por essa ninguém esperava. O Acre, o inventor e formulador do modelo das reservas extrativistas conhecidas no mundo todo devido à luta dos seringueiros comandada por Chico Mendes, Marina Silva e companhia, acaba de sofrer um revés em Brasília ao perder o controle do Instituto Chico Mendes [ICM] em seu próprio quintal.
O Ministério do Meio Ambiente decidiu e entregou para o Estado de Rondônia, conhecidamente um dos estados de maior índice de devastação de florestas, a responsabilidade pela coordenação regional do ICM. Com a medida, o Acre fica subordinado às orientações de Rondônia quando o assunto for gestão e preservação das unidades de conservação.
Foi um nocaute no Estado que tem pelo menos 80% de seu território completamente intacto.
A decisão do governo federal em dar aos rondonienses a coordenação do Instituto é um duro golpe e uma incomensurável derrota política para o Acre, atestam especialistas na área. Foi devido à luta de acreanos travada no governo Lula - Marina Silva, Sibá Machado especialmente - que a instituição foi criada há dois anos, gerando polêmica e dividindo ao meio os servidores do Ibama em todo país.
O ICM foi criado para promover a gestão das unidades de conservação e proteger a biodiversidade do Brasil. No caso do Acre, as ricas e cobiçadas áreas de conservação estão sob controle de Rondônia, Estado governado por Ivo Cassol, o empresário criador de boi e plantador de soja que tem ojeriza às questões do ambiente. Todo mundo lembra que foi ele um dos incentivadores para que o governo Lula esvaziasse os poderes da então ministra Marina Silva, no ministério do Meio Ambiente, até ela pedir demissão.
Há, no entanto, quem avalie que o prejuízo para o Acre com a perda da coordenação regional do ICM é superior e mais traumática que a perda das vilas Extrema e Nova Califórnia, na década de 90. Vencida também pelos vizinhos rondonienses, a disputa territorial pelos lugarejos às margens da BR-364 foi facilitada pela incompetência dos políticos locais da época.
Benção para Rondônia
Com a coordenação do instituto que leva o nome do acreano mais ilustre e conhecido no mundo, Rondônia vai controlar e definir políticas para aproximadamente três milhões de hectares em reservas no Acre [ Res. Chico Mendes, Serra do Divisor, Cazumbá-Iracema, Floresta Nacional do Macauã, Res. do Alto Juruá (a primeira do Brasil criada em janeiro de 1990), Res. do Rio Liberdade, Reserva do Alto Tarauacá e outras menos conhecidas].
O ICM é uma autarquia que surgiu poderosa e rica. Seu patrimônio está no mesmo nível da Petrobrás, INSS e a Receita Federal. O instituto tem cerca de 2.500 imóveis em todo o país e milhões de hectares de áreas verde que precisam ser preservados e que o planeta está de olho. Só que agora, o Acre que sonhava em coordenar esse importante patrimônio natural em sua própria cozinha, terá que se submeter às ordens e aos humores de Rondônia.
Parece mentira, mas é a mais pura verdade. Rondônia vai cuidar' das florestas da terra de Chico Mendes. E o Instituto Chico Mendes, criado por Marina, companheira de luta do líder seringueiro, terá sua sede regional em Porto Velho, quando deveria ser em Rio Branco ou mesmo na cidade de Xapuri.
Com a palavra, o ministro Carlos Minc e o presidente Lula.
UC:Geral
Related Protected Areas: