Marco zero do desmatamento

O Eco - ww.oeco.com.br - 23/04/2010
"Este é o marco zero, analisamos o desmatamento até 2009. Em seguida, vamos fazer o cálculo do incremento do desmatamento", explicou o gerente do Sipam no Amazonas e Roraima, Bruno da Gama Monteiro. "Um por cento pode parecer irrisório, mas merece uma análise detalhada de cada área", completa.

A equipe do Sipam utilizou imagens do LandSat, com definição de até 30m X 30m por pixel, para analisar o grau de interferência humana em 51 unidades de conservação e terras indígenas na Área de Limitação Administrativa Provisória (Alap) da rodovia, estabelecida pelo governo federal em janeiro de 2006. Duas reservas indí­genas ficaram fora do estudo (Itaitinga e Ilha do Camaleão) devido à resolução do satélite.

Duas vezes a Paraíba

No total, foram analisados mais de 12 milhões de hectares, uma área equivalente a dois estados da Paraí­ba ou quase do tamanho do Amapá. Deste total, cerca de 112 mil hectares sofreram com ação do homem. No caso de unidades de conservação e terras indí­genas que não estavam totalmente dentro da Alap, considerou-se a extensão total da reserva. Foram 31 TIs, 11 UCs Estaduais e 8 Federais.

As TIs têm proporcionalmente a maior área desmatada. Porém por serem pequenas, têm pouco peso na análise geral do desmatamento. Um exemplo é a TI Recreio/São Félix, que já teve quase 80% da área desmatada, o que significa 187,61 hectares em termos absolutos.

Em situação inversa estão duas unidades criadas em 2008 pelo governo federal no sul do Amazonas, o Parque Nacional do Mapinguari e a Floresta Nacional do Iquiri. O Parna possui proporcionalmente um baixo í­ndice de antropização, apenas 0,6 %. No entanto, é uma das maiores áreas desmatadas entre as reservas analisadas, 10.410,68 hectares.

A Floresta Nacional do Iquiri também possui grande área desmatada, apesar deste desmatamento ser proporcionalmente pequeno ao tamanho da unidade de conservação. São 9.339,45 hectares de floresta derrubada, o que representa 0,6% da Flona.

A campeã da destruição

A Área de Proteção Ambiental do Rio Negro é a campeã de destruição da floresta, com 53.558,13 hectares, de um total de mais de 460 mil hectares de floresta já foram derrubados. A área equivale a 11% do território da APA, tipo de unidade de conservação com menos restrições à derrubada de árvores.

Em comum estas três unidades com grande área desmatada têm a localização próxima a centros urbanos. A APA Rio Negro fica perto de Manaus (AM), enquanto Mapinguari e Iquiri ficam na parte sul da rodovia 319, perto de Porto Velho (RO).

De acordo com a coordenadora substituta do Instituto Chico Mendes em Manaus, Mônia Fernandes, é preciso considerar as diferenças entre os tipos de UCs, para fazer uma análise mais precisa sobre o desmatamento. "Uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável vai apresentar uma área desmatada um pouco maior, que representada roçados e áreas onde vivem os moradores", explica.

Além disso, há casos de unidades criadas justamente onde existe pressão de desmatamento. A derrubada da floresta pode ter ocorrido antes da criação da reserva. Os números apresentados pelo Sipam ainda não são suficientes para comparar o ritmo de desmatamento ano a ano. Entretanto serão essenciais para controlar e fiscalizar os impactos da pavimentação da rodovia que já está em processo avançado de licenciamento.


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