Lançado em 1999, o primeiro projeto de carbono e redução das emissões dos gases do efeito estufa por desmatamento e degradação (REDD) do Brasil (parceria entre as ONGs The Nature Conservancy (TNC) e Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) e as empresas American Electric Power, Chevron e General Motors) gera importantes resultados para a conservação da biodiversidade e às comunidades locais na criação de alternativas de geração de renda e educação ambiental na região onde os projetos são desenvolvidos. Entre eles estão educação ambiental, ecoturismo, cultivo de abelhas nativas, entre outros. Com o acontecimento da 16ª Conferência das Partes da Convenção do Clima (COP 16), a partir do próximo dia 29, em Cancun, no México, o tema REDD poderá voltar à tona e este é um exemplo de projeto que contempla todas as questões envolvidas nestas discussões.
"Este é um projeto pioneiro, com uma abordagem inovadora nas áreas de carbono e clima, e que teve um papel fundamental no avanço das questões de monitoramento de carbono em florestas tropicais e que agora podem servir de fontes de informação e inspiração para o desenvolvimento de novos projetos REDD no Brasil que levem em consideração a proteção e restauração das florestas no processo de mitigação das mudanças climáticas", afirma Fernando Veiga, gerente de Serviços Ambientais da TNC. "A iniciativa deste projeto é muito importante, pois ajuda a preservar uma relevante parcela da Mata Atlântica brasileira e consegue envolver comunidades locais nesse desafio de grande importância para a manutenção do patrimônio natural", diz o diretor executivo da SPVS, Clóvis Borges.
O projeto é desenvolvido na Área de Proteção Ambiental (APA) de Guaraqueçaba, litoral norte paranaense. No local, em 18,6 mil hectares, são desenvolvidas ações de proteção de ambientes preservados e, ao mesmo tempo, ameaçados pela degradação no maior remanescente da Mata Atlântica ainda em bom estado de conservação. Também são desenvolvidas atividades de administração das reservas, pesquisas científicas, educação ambiental, plantio de mudas para restauração de áreas degradadas.
O projeto já removeu 860 mil toneladas de carbono da atmosfera por meio da restauração de áreas degradadas e, ao longo de seus 40 anos, evitará a emissão de 370 mil toneladas de dióxido de carbono. Além disso, tem ajudado a conservar mais de 300 mil hectares de Mata Atlântica na APA. Os projetos ocupam três áreas de reservas naturais: Morro da Mina (3.300 hectares) e Rio Cachoeira (8.600 ha), no município de Antonina, e Serra do Itaqui (6.700 ha), no município de Guaraqueçaba.
Além do monitoramento e sequestro de carbono, conservação e restauração, o projeto estimula que grupos locais se articulem na busca de alternativas de renda. Nesse trabalho foram obtidos importantes resultados na região, como a criação da Associação de Criadores de Abelhas Nativas da APA de Guaraqueçaba (Acriapa) e a Cooperativa de Ecoturismo de Guaraqueçaba (Cooperguará Ecotur). Na Acriapa, com a criação de abelhas dos associados, só em 2008 os 25 produtores integrantes do projeto bateram recorde de colheita de mel. O grupo colheu 130 kg de mel, 225% a mais do que no ano anterior.
Já a Cooperguará Ecotur tem o objetivo de contribuir com o ecoturismo para a economia do litoral paranaense, mais especificamente as atividades desenvolvidas na região da APA de Guaraqueçaba. Ela é formada por proprietários de restaurantes, de pousadas, campings, além de proprietários de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) que são também guias das trilhas ecológicas. Para a comodidade do turista foram criados 12 roteiros que envolvem visitas às reservas naturais da Mata Atlântica, atividades de observação de animais como golfinhos e papagaios-de-cara-roxa, caminhadas em trilhas, rafting nas corredeiras do Rio Cachoeira, além das manifestações culturais típicas da região, gastronomia, pesca artesanal, artesanato regional e produtos agroflorestais.
Também são desenvolvidos projetos de geração de renda com foco no artesanato. Um deles é o Grupo Nascentes da Serra, formado por mulheres moradoras de quatro bairros vizinhos às áreas dos projetos que aprenderam a arte da costura a partir de treinamento proporcionado pela SPVS. Elas bordam camisetas com desenhos de espécies de flora e fauna que são encontradas na região, como o tamanduá e orquídeas. A máquina de costura e todo material para a confecção das camisetas, desde o tecido às embalagens, são disponibilizados pela SPVS. O dinheiro da venda é revertido para o grupo.
Com a instalação do projeto, a SPVS se tornou uma das maiores geradoras de empregos formais do litoral paranaense, com 45 funcionários que realizam atividades voltadas à manutenção das reservas e aos cuidados para manter a qualidade de seus ecossistemas - em geral, são funcionários contratados em comunidades locais que, com o envolvimento com o trabalho, adquirem conhecimento e passam a desempenhar funções que exigem uma boa retaguarda de conhecimento científico. A maioria dos funcionários contratados era de trabalhadores das antigas fazendas de búfalos.
Eles trabalham como guarda-parque e acompanham pesquisadores em observação da biodiversidade local. Os empregos indiretos também estão em crescimento com o incentivo a novas alternativas de renda. O projeto de meliponicultura é um exemplo do manejo produtivo em áreas naturais.
Todo esse trabalho mostra a interação de um projeto de sequestro de carbono e REDD com as comunidades na implementação de ações voltadas para educação ambiental de funcionários e desenvolvimento das comunidades locais.
Sobre a SPVS
A Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) é uma instituição do Terceiro Setor brasileira, sediada no estado do Paraná, que tem uma história 26 anos em favor da conservação da natureza. Entre as iniciativas da instituição estão projetos para compensação de emissões de gases de efeito estufa, a fim de ajudar a combater as mudanças climáticas, bem como iniciativas para proteção de áreas nativas e de espécies ameaçadas de extinção - especialmente nas formações de Floresta Atlântica e Floresta com Araucária -, recuperação e restauração ambiental, campanhas de sensibilização pública e educação ambiental. Mais informações em www.spvs.org.br.
Sobre a TNC
A TNC é uma organização mundial, líder na construção dos recursos naturais ecologicamente importantes para a natureza e as pessoas. Presente no Brasil desde 1988, tem a missão de conservar plantas, animais e ecossistemas que formam a diversidades de vida na terra, protegendo os recursos naturais necessários à sua sobrevivência. O programa de conservação para a Mata Atlântica e Savanas Centrais, estabelece parcerias com os diversos setores da sociedade a fim de proteger e restaurar áreas prioritárias dentro desses biomas. Para mais informações, acesse: http://www.nature.org/wherewework/southamerica/brasil/
Mata Atlântica:Conservação e Manejo
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- UC Guaraqueçaba (APA Estadual)
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