Lições do reflorestamento histórico

O Globo, Ciência, p. 35 - 08/12/2011
Lições do reflorestamento histórico
Parque da Tijuca comemora 150 anos de replantio ordenado por Pedro II

Cláudio Motta
claudio.motta@oglobo.com.br

No princípio, era a água. Problemas no abastecimento da cidade fizeram com que o imperador dom Pedro II iniciasse, em 1861, um processo de desapropriação e regeneração da vegetação da Floresta da Tijuca. Depois de 150 anos, um mutirão marcará, neste domingo, às 9h, o reflorestamento histórico, que continua influenciando a cidade. Até hoje, o bairro da Usina é alimentado pelos mananciais do Maciço da Tijuca. Assim como persiste a necessidade de garantir o volume de rios Brasil afora recuperando áreas desmatadas. Porém, há outras razões para o plantio, e as técnicas mudaram bastante.

- Naquela época, não havia a preocupação com a preservação do meio ambiente - diz a bióloga Loreto Figueira, chefe do Parque Nacional da Tijuca. - Além da questão da água, a cobertura vegetal protege as encostas dos deslizamentos. As áreas degradadas têm três vezes mais desbarrancamentos. Além disso, a floresta interfere no clima da cidade. Muitas vezes a temperatura no Alto da Boa Vista é quatro graus mais baixa.

Outra diferença do primeiro reflorestamento é a tolerância com as espécies nativas. A jaca hoje é um problema no parque. Loreto explica que a árvore domina de tal forma o ambiente que impede o crescimento de outras plantas nativas ao redor dela. A solução é fazer o anelamento (raspar o tronco, como um anel) das plantas exóticas. Assim, a seiva para de correr e a planta seca aos poucos. Além de evitar uma derrubada, que poderia colocar outras árvores abaixo, a medida dá tempo para que haja a substituição gradativa.

- Não podemos tirar todas as jaqueiras e pronto. É preciso que outras plantas sejam capazes de fornecer alimento para os animais - conta Loreto. - O maior desafio hoje é manter a unidade protegida e criar a infraestrutura necessária para o uso público.

Mais um atrativo será lançado no domingo: um guia com 150 das quase 400 aves do Parque Nacional da Tijuca. Além disso, ainda em dezembro, deverá sair a licitação do Complexo Paineiras. A estrutura foi idealizada para receber os visitantes do Corcovado. Haverá estacionamento, área de embarque e desembarque, sala de exposição, lojas e salas para convenção.

Outra característica do replantio da Floresta da Tijuca é a baixa biodiversidade, na comparação com uma área nativa, explica o geógrafo Alexander Copello, gerente técnico do Instituto BioAtlântica. A ONG está reflorestando 204 hectares do Parque da Pedra Branca, e deverá iniciar novo plantio no mesmo local, mas em 300 hectares.

- Só usamos espécies nativas regionais. E é necessário pelo menos 50 árvores diferentes para garantir a biodiversidade - salienta Copello.

Um hectare de Mata Atlântica no sul da Bahia tem a maior diversidade de árvores do mundo, chegando a ter até 450 tipos diferentes. O biólogo João Paulo Sotero, gerente de capacitação e fomento do Serviço Florestal Brasileiro, também cita o combate ao aquecimento global como um dos benefícios hoje reconhecidos.

- Há 150 anos, o conceito de biodiversidade não estava consolidado, era empírico. Além disso, existe a questão do carbono. No contexto de mudança climática, as florestas têm um papel muito importante. A maior parte de emissões de gases-estufa do Brasil provém do desmatamento - afirma Sotero.

O Globo, 08/12/2011, Ciência, p. 35
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