Cantores da floresta

O Globo, Revista O Globo, p.38-40 - 15/05/2005
Cantores da Floresta
Matas do Maciço da Pedra Branca abrigam mais de 150 espécies de aves
Por Ana Lucia Azevedo
Considerada uma das florestas mais ameaçadas e ricas da Terra, a Mata Atlântica nunca deixa de surpreender. A prova mais recente disso foi descoberta no Maciço da Pedra Branca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, uma área de intensa pressão urbana. Um levantamento das aves no Parque Estadual da Pedra Branca, que se estende por 12.500 hectares e abrange boa parte do maciço, revelou a existência de 166 espécies. Entre elas, verdadeiras raridades e mesmo um pássaro considerado extinto no Rio de Janeiro há 180 anos.
O estudo coloca o parque como o maior refúgio de aves da cidade. Muito menos conhecidas do que a Floresta da Tijuca, as matas da Pedra Branca constituem a maior região florestal urbana do mundo. O parque da Pedra Branca é quatro vezes maior do que o Parque Nacional da Tijuca. No entanto, sua fauna é ainda pouco estudada. Organizado pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), o estudo que revelou a existência de 166 espécies de aves — muito mais do que a maioria dos países europeus — é uma das primeiras iniciativas para investigar a fundo a fauna do parque. Pesquisas anteriores revelaram mais de 500 espécies de animais, dentre mamíferos, aves, répteis, anfíbios e borboletas.
A maior surpresa dos pesquisadores foi encontrar o estalador (Corythopis delalandi). Há quase dois séculos esse passarinho que, como sugere seu nome, tem um canto peculiar, não era visto ou ouvido na cidade.
— É uma ave que vive no interior da floresta. Ficamos muito felizes em saber que ela ainda existe no Parque Estadual da Pedra Branca — diz o biólogo Eduardo Maciel, do IEF.
Ao todo, foram registradas 26 espécies novas para o parque e duas novas para o município: bico-de-brasa (Pitylus fuliginosos) e limpa-folha-gritador (Cichlocolapts leucophrus). O inventário foi coordenado pelo ornitólogo Fernando Pacheco.
— As aves são o grupo de animais vertebrados mais estudado do mundo. Encontrar espécies que nunca haviam sido registradas em meio a uma metrópole como o Rio de Janeiro é espantoso — diz Maciel.
Estendendo-se a uma altitude de até 1.024 metros — o Pico da Pedra Branca, ponto culminante do município do Rio — as florestas do maciço oferecem variados tipos de habitat para as aves. Daí a grande diversidade encontrada numa área relativamente pequena e cercada por uma das maiores cidades da América do Sul.
— Um dos destaques da pesquisa foi descobrir no Camorim, uma das áreas do parque, um par de apuins-de-costas-pretas (Touit melanonotus), um pequeno papagaio. Essa espécie só existe no Brasil e está na lista das aves ameaçadas de extinção — diz o pesquisador.
Pesquisar aves está longe de ser uma tarefa fácil
Para fazer o levantamento, os cientistas passaram dias inteiros de binóculos e gravadores a postos. Muitas espécies são tão furtivas e vivem tão embrenhadas na floresta, que os pesquisadores precisam identificá-las através da voz. Muitos passarinhos pequenos, que passam toda a vida no meio de galhos, sequer foram fotografados. É preciso recorrer a desenhos para registrá-los. Chamou a atenção dos especialistas a existência de aves de rapina. Inclusive de espécies maiores e ameaçadas de extinção, das quais o exemplo mais espetacular é o gavião-pombo (Leucopternis lacernulatus). Outro caçador importante é a coruja-orelhuda (Rhinoptynx clamator), de hábitos noturnos e, por isso, difícil de ser observada.
— A existência de espécies mais sensíveis ao habitat de gaviões e corujas mostra que a floresta da Pedra Branca ainda preserva muito de sua biodiversidade. Há muito o que descobrir — afirma Eduardo Maciel.
O parque da Pedra Branca está aberto à visitação pública e tem acessos por Realengo e Jacarepaguá.
GAVIÃO-POMBO: ameaçado
ARAÇARI-POCA: beleza na mata
ESTALADOR: redescoberto após 180 anos
MARIANINHA-AMARELA: vida na mata
O LIMPA-folha-de-coleira
O LIMPA-folha-gritador: nova pesquisa
GATURAMO-dourado: beleza
ARIRAMBAS-de-cauda-curta
SANHAÇO-de-encontro-amarelo
PAPAGAIO maracanã-nobre
JACUPEMBA: característica da região

O Globo, 15/05/2005, p. 38-40
UC:Parque

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