Parque Nacional de Brasília sofre maior queimada do ano. Funcionários do Ibama suspeitam que o incêndio começou após queda de um raio
Fogo em dia de chuva
A chuva sábado, que amenizou os efeitos da seca, trouxe prejuízos para a fauna e flora do Parque Nacional de Brasília (Água Mineral). Mais de 4 mil hectares na área de preservação ambiental foram consumidos por um incêndio causado, provavelmente, por um raio. Cada hectare equivale a um campo de futebol. A vegetação ardeu por mais de 15 horas. O fogo só foi apagado no começo da tarde de ontem.
O terreno atingido fica às margens da lagoa Santa Maria, reservatório da Companhia de Abastecimento de Brasília Caesb), responsável pela água potável na região do Plano Piloto. Há seis anos, não era registrada queimada de tamanha proporção nos limites do Parque Nacional. Em 1998, a reserva ecológica queimou durante 60 horas. As labaredas, combatidas por mais de 300 homens, destruíram 30% dos 30 mil hectares da unidade ambiental.
Incêndios provocados por relâmpagos, como o do último sábado, são considerados naturais e, portanto, dificilmente são combatidos. Até porque os aios, na maioria das vezes, estão associados a chuva. Mas desta vez foi diferente. Apesar das nuvens carregadas, choveu muito pouco nos limites da reserva. Era preciso intervir sob o risco de uma área ainda maior ficar danificada, explicou Manoel Henrique Pires, do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Coordenador do Centro Nacional de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (PrevFogo), Henrique disse que as primeiras chamas foram avistadas por volta das 16h, pela equipe do bama que estava na região do Lago Oeste uma das mais altas no parque. O fogo surgiu logo depois de uma sequência de raios, contou. Não demorou muito para uma das frentes de fogo se estender ao logo de 5 km. Além disso, o calor intenso facilitou a formação de redemoinhos de fogo, que lançavam fagulhas a metros de distância.
Mais de 80 pessoas, entre funcionários do parque, bombeiros e voluntários da Patrulha Ecológica, se dirigiram ao local. O terreno acidentado e a distância 20 km do portão de acesso dificultou o trabalho. O grupo utilizou bombas costais (mochilas com capacidade para 20 litros de água) e abafadores. Foram empregados três caminhões-pipa, de 11 mil litros cada. Outra tática de combate foi a do contra-fogo, que onsiste em antecipar-se ao fogo, incendiando partes do cerrado. Assim, as chamas se apagam por não ter o que queimar.
Focos
As últimas equipes do Ibama e voluntários da Patrulha Ecológica só deixaram o local por volta das 12h de ontem, após percorrer toda a área atingida pelo incêndio atrás de novos focos. Em alguns pontos ainda havia fumaça. Eram restos de vegetação em áreas já queimadas, explicou o brigadista Valdeir Pereira da Silva, da Patrulha Ecológica. Bombeiros também estiveram no local para elaborar laudo sobre as causas do incêndio. Não há prazo para o resultado. Na vastidão do terreno queimado ra possível ver apenas carcarás atrás de presas fáceis. Ou seja, bichos mortos pelo fogo. A oferta não era abundante. Foram encontrados poucos animais queimados. A área atingida é freqüentada, principalmente, por emas, tamanduás, veados e capivaras. Também circulam por lá roedores e alguns répteis, como cobras e calangos. Segundo o Ibama, a área afetada no fim de semana não registrava incêndio há mais de 12 anos. A estiagem aliada à falta de cuidados tem se mostrado implacável nas matas do Distrito Federal. O Corpo de Bombeiros registrou um aumento de 25% na quantidade de focos de incêndio nos últimos três meses. Da primeira semana de julho até 28 de setembro, os soldados da corporação controlaram 2.055 queimadas. No mesmo período do ano passado, foram 1.657.
Fim da seca
A transição da estiagem para o período de chuvas no Distrito Federal começa para valer no decorrer da semana. A previsão é do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). A exemplo do que ocorreu sábado e ontem, as chuvas esparsas continuam até quarta-feira e devem se intensificar a partir de quinta-feira, quando chega na região Centro-Oeste uma frente fria que ontem estava estacionada no Paraná. A chegada da massa de ar frio se juntará aos pontos de instabilidade e provocará chuvas com mais freqüência. Para hoje está previsto sol durante a manhã e chuva à tarde. A temperatura variará de 19 a 31 graus Celsius e a umidade relativa do ar ficará entre 30% e 80%.
CB, 11/10/2004, p. 18
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