Óleo atinge reserva da baia de Guanabara

FSP, Cotidiano, p.C6 - 28/04/2005
Trabalho de contenção fracassou e cerca de 60 mil litros de diesel já poluíram última área preservada da região no Rio
Óleo atinge reserva da baía de Guanabara
Última região preservada da baía de Guanabara, a APA (Área de Proteção Ambiental) de Guapimirim foi atingida ontem por milhares de litros de óleo diesel despejados no rio Caceribu após o descarrilhamento de um trem de carga na altura de Porto das Caixas, em Itaboraí (45 km do Rio).
O tombamento de sete vagões do trem ocorreu no final da madrugada de anteontem, quando 60 mil litros de óleo atingiram o Caceribu, um dos rios mais bem conservados entre os que desembocam na baía de Guanabara.
O local foi atingido porque fracassou o trabalho de contenção do óleo, feito por órgãos ambientais do Estado e pela FCA, empresa ferroviária responsável pela linha. Segundo a Feema (Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente), o acidente causou um desastre ecológico na região.
Técnicos da fundação não descartam a possibilidade de ocorrer uma mortandade de peixes. Manguezais já foram atingidos.
A APA de Guapimirim tem a maior área contínua de manguezais do Estado do Rio. O óleo também chegou à baía de Guanabara no início da tarde de ontem.
O Estado já aplicou duas multas à FCA (Ferrovia Centro-Atlântica). A Comissão Estadual de Controle Ambiental estipulou em R$ 4 milhões o valor da multa pelo derramamento do óleo. A Superintendência Estadual de Rios e Lagoas multou a FCA em R$ 1 milhão, porque um manancial foi atingido. Hoje, a Feema deverá divulgar um relatório dos danos provocados à fauna e à flora.
Funcionários da Feema, da Defesa Civil Estadual e da Secretaria de Meio Ambiente de Itaboraí atuaram ontem na tentativa de contenção do óleo.
O chefe da APA, Breno Herrera, disse ontem que os técnicos estão tendo muito trabalho pra conter a mancha de óleo diesel. Ele criticou a qualidade e a quantidade do material de contenção cedido pela FCA para a limpeza. "Deveria haver aqui mais barreiras. Estamos com o risco de rios paralelos ao Caceribu serem atingidos."
As equipes conseguiram ontem retirar parte do combustível que não vazou dos vagões. O trabalho é considerado de risco. Existe a possibilidade de os vagões se romperem, provocando o derramamento de mais óleo.
O carregamento de 420 mil litros tinha saído da Reduc (Refinaria Duque de Caxias) e seria levado para Campos, no norte fluminense. A FCA demorou mais de quatro horas para avisar as autoridades sobre o acidente. O óleo escorreu por valas e ficou bem próximo às casas. Moradores passaram mal e foram atendidos na ambulância levada pela empresa.
A FCA transferiu 21 moradores para um hotel em Itaboraí. ""Estamos praticamente abandonados pela empresa em um hotel de péssima qualidade. Nos deixaram por mais de sete horas sentindo aquele cheiro tóxico", disse Maria Aparecida Silva e Castro, 41, que mora em frente à linha do trem.
Outro lado
Em nota, a FCA negou que moradores estejam sendo tratados com descaso. "Os órgãos competentes" avaliaram que não é preciso remover as famílias, diz a empresa, que afirma tentar localizar pessoas que tenham passado mal. Diz ainda que deslocou cem homens para ajudar na contenção.

Área é único remanescente da baía original
DA SUCURSAL DO RIO
A APA (Área de Proteção Ambiental) de Guapimirim, hoje ameaçada pelo vazamento de 60 mil litros de óleo diesel, era, de acordo com o oceanógrafo e professor da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) David Zee, "a região menos impactada da baía de Guanabara, um remanescente do que era a baía na época do descobrimento". "Se eu pudesse escolher qualquer lugar para não acontecer um acidente como esse, seria essa área de Guapimirim", disse o oceanógrafo.
A área de proteção situa-se na parte leste da baía de Guanabara. Seus manguezais, entre os municípios de Magé, Guapimirim, Itaboraí e São Gonçalo, ocupam um espaço total de cerca de 14 mil hectares -140 km2.
Apesar da poluição do restante da baía, o manguezal ainda guarda bolsões de água limpa e uma fauna única nas imediações do Rio de Janeiro.
Em janeiro de 2000, uma falha em um duto da Reduc (Refinaria Duque de Caxias) provocou o derramamento de 1,29 milhão de litros de óleo na baía, o pior acidente do tipo nos últimos anos.
O vazamento, embora distante da Área de Proteção Ambiental de Guapimirim, também contribuiu para piorar a situação ambiental da região. (RAFAEL CARIELLO)[

FSP, 28/04/2005, p. C6
UC:APA

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