Uma força para o verde

CB, Cidades, p. 32 - 06/06/2006
Uma força para o verde
No Dia Mundial do Meio Ambiente, Petrobras doa verba de R$ 1,6 milhão ao Jardim Botânico

Marcela Duarte
Da equipe do Correio

As chamas ultrapassavam as copas das árvores do cerrado - cerca de 2m de altura. Animais morreram, flores nativas se queimaram sob o calor das chamas. Homens vestidos com macacões à prova de fogo trabalharam sem parar para controlar o fogo. Além de caminhões que transportavam água, também foi necessário utilizar um helicóptero do Corpo de Bombeiros. Mesmo com todo o esforço, o resultado do maior incêndio que já ocorreu no Jardim Botânico de Brasília, entre 19 e 21 de setembro de 2005, foram 3.140 hectares de cerrado destruídos.

Nove meses depois do incêndio, as árvores mais resistentes estão vivas. As folhas já brotam nos galhos. A vegetação rasteira também começa a vencer a camada cinza que restou do incêndio e flores como caliandras, mimosas e quaresmeiras começam a colorir o tom acinzentado que ainda pinta o cerrado na região. E no Dia Mundial do Meio Ambiente, o Jardim Botânico recebe de presente um programa de recuperação. O anúncio foi feito ontem pelo gerente do escritório da Petrobras em Brasília, Carlos Alberto Figueiredo. Cerca de R$ 1,6 milhão será investido no projeto.

A diretora da reserva, Anajúlia Heringer, comemora a notícia. Lembra que não basta esperar que o cerrado por si só recupere a perda. "Além de medidas que contribuam para o crescimento da vegetação, é preciso fazer o acompanhamento da biodiversidade e estabelecer programas preventivos e de educação. Não dá para ver o fogo queimar tudo novamente", avalia.

Medidas imediatas
Segundo Anajúlia, uma das primeiras medidas a serem tomadas é a poda de espécies que impedem o desenvolvimento de plantas rasteiras. "Uma dessas espécies é a samambaia, que cresce facilmente em áreas devastadas pelo fogo. Ela suga luz e nutrientes e atrapalha o crescimento de outras plantas", explica. Além do monitoramento do solo, replantio de espécies nativas e elaboração de projetos de preservação, o investimento vai possibilitar a compra de veículos e equipamentos como roupas especiais para os funcionários da Brigada de Incêndio. "Um dos aparelhos que pretendemos adquirir é uma espécie de compressor que ajuda a apagar o fogo. Precisamos estar preparados", destaca Anajúlia.

Para o representante da Petrobras no DF, Carlos Alberto Figueiredo, haverá também ações de orientação às pessoas que moram próximo ao Jardim Botânico e aos freqüentadores da reserva. "Quando a gente conseguir fazer o homem perceber que ele é parte do meio ambiente, teremos um grande aliado no trabalho de preservação", disse Figueiredo. Segundo a direção do Jardim Botânico, 90% dos incêndios que ocorrem no local são de origem criminosa. Entre as várias causas estão as práticas agropastoris, as fogueiras em áreas de visitação pública, as queimadas intencionais, a imprudência de fumantes que jogam tocos de cigarro, alguns ritos religiosos, incineração de lixo e descargas elétricas naturais.

Conquista
Antônio Luiz Barbosa é presidente da Sociedade Amigos do Jardim Botânico e faz parte da entidade há quatro anos. Para ele, o investimento da Petrobras pode ser considerado uma das conquistas mais importantes do Jardim Botânico. "Posso dizer que é um marco histórico. É uma alegria muito grande ver a reserva receber esse presente no Dia do Meio Ambiente", afirma. Barbosa acredita que os maiores beneficiados com o projeto são os moradores do DF. "O Jardim Botânico funciona como pulmão da capital da República. As pessoas precisam ficar atentas para os perigos de brincar com fogo", comenta.

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o inverno pode ser rigoroso em 2006 e a umidade relativa do ar tende a baixar a 10%, o que significa maior risco de queimadas. Os especialistas adiantam que a partir de meados de julho, quando o inverno entra no segundo mês, o clima acumula duas fortes características - a baixa temperatura e a baixa umidade. "É justamente nessa época que ocorre o maior índice de incêndios. Quanto maior o tempo sem chuva, mais a vegetação está seca", lembra Manoel Rangel, meteorologista do Inmet.

Outro alerta é quanto ao frio. Segundo Rangel, a temperatura deve chegar a 10oC. Ele sugere também uma forma de a população identificar a qualidade do ar. "Quanto mais avermelhado estiver o pôr-do-sol, mais o ar contém partículas de poeira, que formam a névoa seca. A natureza tem disso. Nem sempre o mais belo é o melhor para a população", avalia.

FLORES, FRUTOS e ÁGUA
As belezas naturais do Centro-Oeste estão retratadas no livro Flores e frutos do cerrado, de Carolyn Proença, Rafael S. Oliveira e Ana Palmira Silva, que será lançado hoje às 19h no bar Monumental (201 Sul). A obra traz 182 imagens, entre aquarelas e fotos, de plantas e paisagens típicas do cerrado, além de explicações sobre 384 espécies vegetais. O guia é baseado na flora encontrada na Reserva Particular do Patrimônio Natural Linda Serra dos Topázios, em Cristalina (GO). Os exemplares serão vendidos no local a R$ 40. Ontem à noite, as professoras Vera Catalão e Maria do Socorro Rodrigues, da UnB, lançaram o livro Água como matriz ecopedagógica. A publicação tem 21 capítulos, em que especialistas discutem como abordar o tema em projetos pedagógicos. O livro será entregue gratuitamente às bibliotecas das escolas públicas do DF. O lançamento, no Centro de Excelência em Turismo (CET) da UnB, fez parte das comemorações pelo Dia Mundial da Ecologia e do Meio Ambiente.


COMEMORE TAMBÉM

Para a garotada
Alunos de escolas públicas do DF poderão participar de atividades como caminhadas e orientações sobre a preservação de espécies nativas do cerrado.
Quando: até sexta-feira, a partir das 8h
Onde: Parque Olhos d'Água e Parque da Cidade

Exposição fotográfica
Os visitantes do Jardim Botânico terão acesso a fotografias do incêndio que destruiu 3.140 hectares do Jardim Botânico em setembro de 2005.
Quando: de terça a domingo, até agosto
Onde: Centro de Visitantes do Jardim Botânico. O ingresso para entrar na reserva custa R$ 2

Arte e meio ambiente
O shopping Conjunto Nacional, em parceria com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), Embrapa e Ministério da Saúde, promove uma semana de atividades para comemorar o Dia Mundial do Meio Ambiente. Entre as atividades, exposições fotográfica e de artes plásticas e painéis sobre as novidades tecnológicas para a preservação das espécies
Quando: até sábado, no horário de funcionamento do shopping
Onde: Praça das Artes do Conjunto Nacional

CB, 06/06/2006, Cidades, p. 32
UC:Estação Ecológica

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