Monumento arqueológico corre perigo

CB, Turismo, p. 7 - 05/07/2006
Monumento arqueológico corre perigo
Inscrições rupestres com pelo menos 5 mil anos estão cobertas de fuligem em parque nacional

André Dib
Do Diário de Pernambuco

Um passeio pelo Vale do Catimbau, a 300km do Recife, pode ser uma experiência única para os sentidos. Seu complexo de serras, vales e rochas, constituem uma beleza primitiva que, aliada ao um conjunto de sítios arqueológicos, remetem a lugares longínquos da nossa história. Inscrições rupestres milenares, como as encontradas na Pedra da Concha e na Alcobaça, são as atrações mais visitadas por turistas e pesquisadores.

A trilha da Pedra da Concha, no entanto, conduz a um desastre arqueológico: inscrições que remontam a pelo menos 5 mil anos estão cobertas de fuligem, causada pela queima de um ninho de marimbondos. A dificuldade em descobrir o responsável é grande, já que o painel está próximo à estrada, e a prática da caça é disseminada entre os moradores da região. Isso à parte, somente no ano passado, o Vale do Catimbau recebeu pelo menos 2.200 visitantes.

Estamos investigando para saber quem foi. A trilha fica dentro de uma área privada, muito perto da estrada, onde passam caçadores e outras pessoas, diz Marcos Ramos Leite, presidente da Associação dos Guias Turísticos do Vale do Catimbau. Ele informa que esta não é a primeira situação de vandalismo. Queimadas, desmatamentos, e roubos de pedaços dos painéis também são recorrentes no local. O Ibama precisa tomar uma providência, porque outros problemas como este podem surgir, avisa Leite.

A única solução praticável com a pouca estrutura disponível tem sido orientar os donos dos sítios a cobrar R$ 1 por visitante, dinheiro destinado à confecção de placas de aviso e cordões de isolamento. Da parte do Ibama, por enquanto, há o serviço de combate de incêndio, o Prevfogo, que conta com viaturas e pessoal especializado.

Manejo
De acordo com o consultor ambiental Célio Muniz, danos como este são irreversíveis. É lamentável. Muitas vezes quem toma atitudes como esta são pessoas de boa intenção, mas mal orientadas, comenta Muniz, lembrando que o painel da Pedra da Concha é tão importante que já foi capa de uma revista italiana especializada em arqueologia. A solução apontada por ele é a implantação de um plano de manejo no local, o que significa demarcar as áreas de visitação, dar suporte às trilhas, implantar um escritório administrativo e guaritas de segurança.

Considerada área de extrema importância biológica, o Vale do Catimbau foi transformado em Parque Nacional em 2002, com o objetivo de preservar o conjunto geológico, espeleológico e arqueológico da serra, promover o turismo ecológico, e preservar um dos últimos remanescentes de Caatinga ainda em estado de conservação. Na prática, no entanto, ainda não cumpriu seu primeiro item de implantação - a desapropriação dos 62.300 hectares, avaliada em R$ 10 milhões. Os moradores esperam a indenização desde 2003. Alguns guias informam que o vandalismo, facilitado pela falta de fiscalização e limitação, pode ser também uma reação ao impasse.

Para o analista ambiental do Ibama, Francisco Araújo, a desapropriação e o assentamento das famílias desalojadas, resolveriam 90% dos problemas, pois assim poderia ser iniciado o plano de manejo. O gerente regional da instituição, João Arnaldo Novaes Junior, adianta que não há prazo definido para isso, já que o orçamento anual destinado para o Ibama em Pernambuco não passa dos R$ 2,5 milhões por ano. Ele informa que as metas para 2006 são ampliar a equipe de trabalho, a criação de um centro de visitantes e a desapropriação gradual das terras. É uma área muito grande e habitada. Não é possível transformá-la em um ou dois anos, avalia o gerente.


CB, 05/07/2006, Turismo, p. 7

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