Fogo para combater incêndio

Fogo para combater incêndio
Funcionários e brigadistas do Parque Nacional de Brasília terminam, na próxima semana, de queimar 120km de vegetação. A técnica funciona como proteção à reserva ecológica nesta época de seca

Marcela Duarte
Da Equipe do Correio


O Parque Nacional de Brasília é a casa de mais de 28 espécies de animais silvestres, cinco delas em extinção. Os 40 mil hectares de área escondem dezenas de nascentes, plantas nativas, trilhas, veredas e muita beleza. Com a chegada do inverno e da baixa umidade relativa do ar, a vegetação resseca, o que facilita os incêndios. Mas para evitar que o fogo destrua a riqueza natural do lugar, uma equipe de 40 pessoas, entre brigadistas e funcionários do parque, empenha-se na construção de um aceiro ao redor da reserva. A previsão é que fique pronto na próxima semana.

O trabalho de queimar a vegetação evita que focos de incêndio nas margens de rodovias ou áreas habitadas, que fazem divisa com a reserva, espalhem-se pela mata adentro, destruindo plantas e colocando a vida de animais em risco. A técnica é realizada desde a década de 80 em várias áreas de preservação no Distrito Federal. Segundo Darlan Alcântara, chefe do Parque Nacional de Brasília, existem duas formas de realizar o aceiro. Uma delas utiliza tratores para a remoção da vegetação. A outra é a queima de uma faixa da vegetação. "Como o cerrado se dá bem com o fogo, utilizamos ele a nosso favor", explica Darlan.

Segundo Paulo Amozir, coordenador do Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo-DF), serão queimados 120km de vegetação. Até agora 80% do aceiro já foi realizado. A faixa terá 15m de largura e ficará próxima à cerca do Parque Nacional de Brasília. "É uma vegetação que se perde, mas é fundamental para resguardar todo o parque", explica. No ano passado, foram identificados 28 focos, que não entraram no parque por conta do aceiro.

Para realizar o trabalho é preciso seguir regras rigorosas, caso contrário o resultado pode ser desastroso. Durante a operação, alguns servidores atuam com lança-chamas ou pinga-
fogo, aparelhos que queimam uma faixa delimitada. Outros funcionários ficam atentos com abafadores em punho. Eles são responsáveis para combater o foco de incêndio que extrapolar a área delimitada. "É fundamental que a equipe trabalhe em conjunto e mantenha a comunicação via rádio. A operação oferece grande risco e estamos sujeitos a uma série de imprevistos", avalia Paulo.

Depois da queimada, o cerrado é molhado. "Este processo é fundamental para evitar que qualquer chama fique acesa. Ainda mais com o aumento da temperatura nos últimos dias", conta Manoel Henrique Pires, gerente de fogo do Parque Nacional de Brasília. O trabalho deve terminar no final da próxima semana. Desde o início do ano, dois focos de incêndio tiveram que ser eliminados dentro da área da reserva e outros quatro foram identificados na divisa.

Jardim Botânico
Outra área destinada à preservação que também se prepara para a chegada da seca é o Jardim Botânico de Brasília. O aceiro começou a ser construído esta semana. Segundo Isac Nuno Carvalho de Azevedo, gerente da Divisão de Ecologia do Jardim Botânico, é nesta época que a vegetação está mais seca e deve ser queimada. Ele aponta que o aceiro será realizado em pontos que fazem divisa com as rodovias DF-001 e DF-025. "São nessas áreas que ocorrem o maior número de focos", explica.

Há três semanas, a equipe de Brigada de Incêndio do Jardim Botânico de Brasília foi acionada para combater dois focos de incêndio próximo ao balão da Papuda.
"Se não nos resguardarmos dessa maneira, cigarros ou pequenos focos podem provocar uma destruição incalculável", aponta Isac. Ele alerta que, além do risco dos focos de incêndios nas rodovias, os moradores próximos ao Jardim Botânico também precisam ficar atentos. "Queimar montes de lixo em casa é colocar em risco a natureza", avisa.

A queimada preventiva será realizada sempre às terças, quartas e quintas-feiras. "O trabalho é bem organizado. Tem todo um aparato para garantir a segurança de quem realiza e também da vegetação", afirma Anajúlia Heringer, diretora do Jardim Botânico.

CB, 29/07/2006, Cidades, p. 29

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