O fim das árvores invasoras

CB, Cidades, p. 26 - 24/12/2006
O fim das árvores invasoras
Visitantes do Parque Nacional estão indignados com a substituição de plantas exóticas por espécies do cerrado. Ambientalistas afirmam que medida é necessária para manter biodiversidade da reserva ecológica

André Bezerra
Da equipe do Correio

A discussão sobre a substituição de árvores exóticas - ou seja, que vieram de outros cantos do Brasil e do mundo - por espécies do cerrado tomou conta do Parque Nacional de Brasília. Desde o início do mês, a direção da reserva ecológica começou um remanejamento para evitar que as plantas de outros ecossistemas invadam a mata nativa, uma vez que, por lei, a missão do Parque Nacional é preservar o bioma do cerrado. De acordo com técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), as espécies exóticas são invasoras e aos poucos vão se alastrando pela mata como se fossem uma praga. Acabam por provocar a diminuição da biodiversidade.
A derrubada de árvores nas áreas próximas às piscinas deixou alguns visitantes indignados.
A servidora pública Lúcia Regina Fernandes Novaes, 42 anos, que é mensalista do Parque Nacional, não compreendeu por que as mangueiras e jaboticabeiras que dão sombra à piscina nova estavam sendo retiradas. "Acho que não faz sentido tirar essas árvores. Algumas já estão lá há anos e dão sombra e frutas, tornando mais agradável a área das piscinas. Até os animais se alimentam dessas frutas", avalia Lúcia, moradora da Asa Norte e freqüentadora assídua do parque há 37 anos. "Vi essas árvores serem plantadas, por isso fico chateada de vê-las sendo derrubadas", completa.
Até o momento, apenas as árvores que estão próximas das piscinas da Água Mineral e da Administração do Parque foram substituídas. Elas estão no pequeno perímetro onde é permitida a entrada de visitantes externos no Parque Nacional, que tem 30 mil hectares de Área de Preservação Permanente (APP) do cerrado. Na piscina nova, já foram plantadas 20 mudas de jatobá (Hymenaea courbaril) e ingá (Inga affinis).
Também estão previstas para serem colocadas pelo menos 10 mil mudas, incluindo ipês, copaíbas (Copaifera officinalis), buritis (Mauritia vinifera), dentre outras espécies. Durante oito meses, técnicos do Parque Nacional analisaram as plantas exóticas mais presentes na área de preservação e quais são os locais mais afetados por elas.
Habitat
Para a engenheira florestal Christiane Horowitz, o manejo das árvores exóticas é essencial para a manutenção do cerrado dentro do parque. "A curto prazo parece não fazer diferença a presença dessas espécies. Mas em 10, 20 ou mais anos, elas poderão ter dominado toda a área de cerrado, destruindo a mata nativa", explica. "No mundo, essa é considerada a segunda maior causa de perda da biodiversidade, depois da destruição do habitat", destaca a analista ambiental do Ibama.
Segundo o estudo coordenado por Horowitz, as espécies que mais ameaçam o cerrado dentro do parque são o capim-gordura (Melinis minutiflora), a agave americana (Agave angustyifolia), a leucena (Leucena leucocephala) e até espécies mais comuns em áreas urbanas, usadas ornamentalmente, como o pinheiro, o bambu e a espada de São Jorge.
Além de se espalharem rapidamente, essas plantas prejudicam as árvores nativas, porque alteram as condições do solo. Antes de se transformar em área de preservação, uma parte do parque serviu como viveiro de plantas frutíferas da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap). Nessa época, começaram a ser plantadas as primeiras mudas exóticas.
O coordenador do Núcleo de Estudos Ambientais da Universidade de Brasília, Gustavo Souto Maior, concorda com a remoção das espécies exóticas. "É importante que se cuide da expansão das plantas invasoras no Parque Nacional, já que sua função é exatamente preservar o cerrado. Porém, acho que devia ser dada uma atenção maior ao visitante. Por falta de informação, tem muita gente que reclama do que está sendo feito", diz o pesquisador, que também é presidente da Associação de Amigos do Parque Nacional (Afam). Foi elaborado um informativo para os visitantes, entregue na portaria, mas pouca gente tomou conhecimento do manejo florestal. A direção informou que não haverá grandes mudanças nas áreas abertas para visitação.


Memória
Derrubada de pinheiros

Um dos símbolos do Parque da Cidade, o bosque de pinheiros foi removido em janeiro deste ano. Mesmo sob protesto dos freqüentadores, que aproveitavam as sombras para churrascos, o governo decidiu substituir os 650 pinheiros, contaminados por um fungo misterioso, por árvores nativas do cerrado. A decisão revoltou os visitantes do parque. As árvores estavam no local há 45 anos. Com a derrubada, formou-se uma clareira no antigo bosque. Além do problema da contaminação por fungos, o governo também argumentou que os pínus são árvores suscetíveis a incêndios.
O corte dos pinheiros começou em 23 de janeiro, depois de uma avaliação feita por técnicos. Eles concluíram que o bosque representava uma ameaça aos freqüentadores do parque. Em 18 de dezembro do ano passado, ventos de 89km/h derrubaram cerca de 200 pinheiros na área próxima ao restaurante Alpinus, perto do estacionamento 5. Na queda, as árvores se chocaram com outros pínus, que ficaram comprometidos por terem raízes superficiais.
No local, foram plantadas mudas de ipês brancos, roxos e amarelos, além de sucupira, pequi, jacarandá e copaíba. Só daqui a cinco anos os visitantes poderão aproveitar as sombras das novas árvores. Outras áreas de Brasília passaram pelo mesmo processo de retirada de árvores desgastadas. De acordo com o Departamento de Parques e Jardins, 545 espécies plantadas nas asas Sul e Norte foram substituídas por outras nativas do cerrado.

CB, 24/12/2006, Cidades, p. 26
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