CB, Cidades, p. 23 - 20/08/2008
Na linha do fogo
Não chove há 113 dias no Distrito Federal. Com a umidade do ar cada vez mais baixa, ontem foi a vez do Parque Burle Marx se transformar em alvo de devastação por incêndio
Teresa Cunha
Especial para o Correio
Um incêndio próximo à área onde será construído o Parque Burle Marx, ao lado do Setor Noroeste, atingiu ontem cerca de 14 hectares (que equivale a 14 campos de futebol) de vegetação do cerrado, segundo informações do 4o Batalhão de Incêndio do Corpo de Bombeiros. O fogo começou por volta das 11h e só foi controlado às 15h, por 30 homens da corporação que utilizaram abafadores e bombas de água.
De acordo com o tenente Paulo Cordeiro, este é o segundo incêndio recente na região. "Vamos fazer uma perícia no local. Há moradores na área, e pessoas que jogam lixo no lugar", afirmou. Além do fator humano, a baixa umidade do ar - ontem chegou a 29% e hoje deve cair a 20%, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) - e a ausência de chuva contribuem para as queimadas, cuja média diária é de 40 a 45 focos.
Desde 28 de abril não chove no DF. Já são 114 dias de estiagem, o que não é normal, segundo o meteorologista Hamilton Carvalho. "Geralmente chove em maio e às vezes até no começo de junho", afirma. "Este ano a chuva foi embora mais cedo".
Em agosto, o Corpo de Bombeiros já registrou, até ontem, cerca de 700 incêndios no Distrito Federal. Se continuarem a ocorrer os focos na mesma proporção, as queimadas podem superar os números de 2007, que fecharam o mês de agosto com 1.085 focos, afirma o tenente-coronel Maciel Nogueira, chefe da Comunicação Social do Corpo de Bombeiros do DF.
Alertas
A média da umidade relativa do ar vem caindo desde junho, quando esteve em 61%, com mínima de 30%. Em julho, chegou a 51%, com mínima de 16%, e neste mês já está em 49% com mínima de 21% no dia 9. As médias são as mesmas de 2007, para o mesmo período, de acordo com Hamilton Carvalho. "Há variações de umidade durante o dia, por isso as médias acabam sendo iguais", explica. "O que muda é o valor mínimo da umidade. Em junho e julho de 2007 a menor taxa foi de 21%, mas em agosto caiu a 13%. É esperada uma queda até o final deste mês", acrescenta Ribeiro.
Por tudo isso, valem os alertas dos bombeiros. O tenente-coronel Nogueira garante que a maioria dos incêndios é provocada pela própria população. "O incêndio pode ocorrer por pontas de cigarro jogadas para fora do carro nas proximidades das rodovias, devido às queimadas na zona rural e pela queima de lixo em acampamentos onde as fogueiras não são apagadas", explica Nogueira.
Para o coronel Alexandre Oliveira, da Defesa Civil, 90% dos casos de incêndio são criminosos. As áreas de maior incidência de queimadas ficam em Sobradinho, Brazlândia, Planaltina e Paranoá. Muitas vezes, os bombeiros têm dificuldade de chegar aos locais porque a mata é muito fechada. Eles precisam voltar várias vezes até os caminhões, que não conseguem entrar, para abastecer as bombas de água e acabar com focos de incêndio.
O incêndio de ontem, na área do futuro Parque Burle Marx só não foi maior porque havia aceiros (cinturão de terra com vegetação rasteira que não chega a incendiar) que protegem matas de focos de incêndio e impedem o fogo de se alastrar.
Controle
Outra dificuldade no combate aos incêndios é que os equipamentos utilizados pelos bombeiros no DF são arcaicos, segundo o coronel Alexandre Costa. "O combate ao fogo é direto, com homens que usam apenas abafadores (pedaços de lona grossa fixados a um cabo de madeira ) e enxadas. Só o estado do Rio de Janeiro possui uma aeronave de combate a incêndio florestal", informa.
Os bombeiros têm distribuído cartilhas e folderes e feito palestras nas escolas de áreas urbanas e rurais e em comunidades de agricultores para alertar a população sobre os riscos de incêndios que podem atingir casas e ferir moradores. Um vídeo produzido pela corporação ensina os métodos básicos de prevenção em matas e florestas.
"O cerrado pega fogo com muita facilidade", mostra a cartilha, que explica ser esse o segundo maior ecossistema brasileiro, menor, apenas, do que a Amazônia. O cerrado já perdeu cerca de 60% d e sua vegetação.
A Defesa Civil reafirma que a grande freqüência de queimadas já comprometeu biologicamente o cerrado. "Se a população não colaborar, teremos problemas crescentes", esclarece Costa. Levantamento do Corpo de Bombeiros realizado entre 2002 e 2007 mostrou que houve 96 incêndios florestais de grande impacto no DF. Os que ocorreram em reservas florestais atingiram um total de 1.615 hectares, que correspondem a 1.600 campos de futebol.
Prevenção
O Corpo de Bombeiros do DF alerta para os cuidados que a população deve tomar para prevenir e evitar acidentes no meio ambiente:
Não lance pontas de cigarro pela janela do carro. O cerrado incendeia com muita facilidade
Antes de acender fogueiras em áreas verdes, é preciso capinar a vegetação até chegar na terra
Depois que a fogueira apagar, enterre o material combustível que sobrou
É preciso pedir autorização ao Ibama para realizar queimadas e informar o horário e o local ao Corpo de Bombeiros. Queimadas são crimes ambientais previstos em lei
Ao avisar um incêndio florestal, ligue para 193, telefone de emergência dos bombeiros. Informe o local e um ponto de referência
O número
Estatística
700 incêndios foram registrados em agosto até ontem
CB, 20/08/2008, Cidades, p. 23
UC:Parque
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