Como uma espécie rara em um parque pode ajudar a contar a história ambiental da região? Essa e outras perguntas inquietam um grupo de pesquisadores do Parque Nacional da Chapada Diamantina, unidade de conservação gerida pelo Instituto Chico Mendes na Bahia. Isso porque o buriti, espécie largamente distribuída pela América do Sul, especialmente em regiões de Cerrado, é exemplar raro de flora na chapada.
A pesquisa, toda conduzida por analistas ambientais do Instituto - Cezar Neubert Gonçalves, Luanne Helena Augusto Lima, Bruno Soares Lintomen, Pablo Lacaze de Camargo Casella e Christian Niel Berlinck, com a colaboração do auxiliar Márcio de Souza Oliveira -, busca responder exatamente por que esses buritis são raros. "Queremos entender por que é assim e que fatores fizeram esta espécie ser incomum na região. A resposta pode dar indicativos sobre a história ambiental da Chapada Diamantina", destaca Cezar Gonçalves.
A equipe fez um censo de cinco populações de buritis localizadas no município de Palmeiras (BA), avaliando suas estruturas e aspectos ecológicos. Dessas, duas se encontram dentro dos limites do parque, duas no Vale do Cercado e uma em Conceição de Baixo.
De cada buriti foi medido o perímetro, a altura do peito, contado o número de folhas e identificada a presença sinais reprodutivos. Ao todo, foram contabilizados 35 indivíduos. Os próximos passos serão verificar a viabilidade de se desenvolver outros estudos sobre a planta, buscando apoio de outras instituições de pesquisa, como universidades.
Como a equipe já conseguiu fazer germinar sementes oriundas dos buritis da região, a expectativa é de se trabalhar na recomposição dessas populações. "Se chegarmos a conclusão de que é viável e pertinente, a ideia é montar um programa que promova estas ações", destaca Gonçalves.
Mesmo em poucos exemplares, os dados obtidos até agora levam a equipe a crer que esta espécie seja nativa da região, e não introduzida, como o buriti encontrado na Serra do Cipó, por exemplo, cuja presença esteve ligada a ocupações humanas. Ainda não dá para afirmar ao certo, mas há outras populações na região que deverão ser amostradas como parte do estudo e é possível que estas dêem as respostas que a equipe precisa.
"As populações de buritis existentes se encontram em áreas próximas ao leito de rios ou alagados, onde se esperaria encontrá-los, mesmo naquelas onde já houve algum impacto provocado pelo ser humano. Mesmo assim, não há nessas últimas sinais de que tenha havido moradias ou coisa similar", explica Cezar.
Os buritis são fonte de alimentação de araras, que não existem na Chapada Diamantina. "Tudo indica que roedores façam uso de seus frutos, quando caem das palmeiras", frisa o pesquisador.
O uso do buriti na região do parque é restrito e apenas uma família da comunidade de Campos de São João, em Palmeiras, produz de forma esporádica doces com os frutos das palmeiras. "Há nove comunidades dentro do parque e o processo de regularização delas deverá ocorrer paulatinamente, a medida que forem resolvidos os problemas fundiários da unidade. Mesmo assim, não há nenhum envolvimento dos moradores com as populações de buritis do parque", esclarece Gonçalves.
É provável que se chegue ao final do estudo com nove ou dez populações de buritis estudadas. "Estamos pensando em avaliar, num projeto específico e já numa segunda fase da pesquisa, a estrutura genética da espécie para verificar se as populações da Chapada são vinculadas as populações do oeste baiano ou a outras regiões, como o sul do Piauí".
O buriti (Mauritia flexuosa L.f.) é uma palmeira usada na produção de óleo, alimentos, fibras vegetais e mesmo como material de construção, sendo amplamente distribuída na região central do Brasil, Amazônia e América Central.
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