Estado inicia a retirada de famílias da serra do Mar

FSP, Cotidiano, p. C7 - 07/11/2009
Estado inicia a retirada de famílias da serra do Mar
Remoção de 21 mil pessoas terá início com a transferência de 800 famílias para a Baixada Santista e o Grande ABC
Ocupações surgiram há 40 anos, com as obras do sistema Anchieta-Imigrantes e o desenvolvimento industrial na Baixada

José Ernesto Credendio
Da reportagem local

O governo de São Paulo começa em dezembro a transferir as primeiras das cerca de 21 mil pessoas que serão removidas do Parque Estadual da Serra do Mar. Do total de 6.740 famílias retiradas, 5.350 são de Cubatão, cidade com a maior carência habitacional da região.
Além desse grupo, a gestão José Serra (PSDB), através de convênio com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), vai cadastrar outras 7.200 famílias que estão dentro ou no entorno de áreas protegidas, para verificar quantas também deverão deixar suas casas.
As famílias de Cubatão habitam a região das Cotas e núcleos próximos, que surgiram há cerca de 40 anos, com as grandes obras do sistema Anchieta-Imigrantes e de indústrias na Baixada Santista.
Os núcleos foram se consolidando a ponto de formar quase pequenas cidades. Centenas de casas foram erguidas ao longo do rio Cubatão, que abastece 800 mil pessoas na Baixada.
Os bairros Cotas 400/500 (203 famílias), Água Fria (1.329), Pilões (682) e Sítio Queiroz (141) serão totalmente erradicados. Outras 2.410 famílias terão o direito de ficar em áreas excluídas do parque.
Entre moradores, há um clima de apreensão. Muitos estão nesses locais há décadas, caso da viúva Julia Maria da Conceição, 75. Ela mora na região há 40 anos e sabe que está na lista dos que serão obrigados a sair.
Mas não quer deixar o convívio no bairro, onde viveu com o marido até a morte dele e onde moram cinco dos seis filhos e seus netos. Teme que a família se espalhe. "Não pretendo sair. Formei minha família aqui."
Mesmo quem apoia o projeto, como Severino Ferreira da Silva, 57, que está há 37 anos na Cota 200, está apreensivo. "O projeto é bom, não pode reclamar, mas ninguém fala nada, fica parecendo que é para ficar bom para os olhos dos grandões que passam na Imigrantes."
Uma das queixas das famílias é contra o próprio Estado, que nada fez para evitar o avanço da ocupação irregular, algo que um dos relatórios do BID confirma.
Os consultores chegam a culpar a inação do governo pela situação e citam a cota Água Fria como exemplo. O local, à beira da rodovia, não fazia parte do parque até 1994, quando tinha 35 casas. O terreno foi incorporado ao parque, o que, em tese, deveria garantir sua preservação. Foi o contrário: o total de casas se multiplicou por 30.
Anteontem, o secretário da Habitação, Lair Krähenbühl, se reuniu com a prefeita de Cubatão, Márcia Rosa (PT). Ficou definido que serão retiradas primeiro as casas de áreas sujeitas a deslizamentos.
Os primeiros 800 apartamentos, na Baixada Santista e no Grande ABC, ficam prontos em dezembro ou janeiro. Serão investidos R$ 560 milhões apenas em casas. As famílias poderão escolher um local para morar ou receber carta de crédito para outro imóvel.


PM manterá a operação anti-invasão

Do enviado a Cubatão

Antes mesmo de iniciada a remoção das famílias, moradores da região das Cotas já sentem os efeitos do plano de erradicar bairros inteiros em Cubatão. Há um controle rígido da entrada de material de construção, e policiais militares acompanham as casas em reforma. O objetivo, afirma o Estado, é evitar novas invasões.
"Parece que eles têm uns satélites. Se você mexe no telhado, vem um policial conferir", diz Severino Ferreira da Silva, do Cota 200. O coronel da PM Eclair Teixeira Borges, coordenador do programa, afirma que a vigilância será mantida também depois que as áreas estiverem totalmente desocupadas.
A iminência do fim do bairro fez despencar até a menos da metade os preços das casas, mesmo das que devem ser mantidas, dizem moradores.
Além dessa relação conflituosa com moradores, o plano de apressar remoções também encontra resistências por parte do governo da prefeita de Cubatão, Márcia Rosa (PT). O chefe de gabinete, Gerson Rozo, diz que ela receia efeitos negativos da implantação de um novo bairro no Jardim Casqueiro, onde estão sendo construídas 1.840 casas. "A primeira preocupação da prefeita é com a falta de informação aos moradores. Também concluímos que o Casqueiro precisa de toda a estrutura de transporte, saúde, educação e lazer." (JEC)

FSP, 07/11/2009, Cotidiano, p. C7
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