Tecnologia a serviço do Parque da Tijuca

CB, Ciência, p. 24 - 09/03/2010
Tecnologia a serviço do Parque da Tijuca
Projeto da PUC monitora Mata Atlântica no Rio de Janeiro com imagens detalhadas feitas por satélites. Ideia é impedir desmatamento predatório e crescimento urbano descontrolado

Gisela Cabral

A tecnologia tem sido a principal arma na luta pela preservação de um dos biomas mais ricos e, ao mesmo tempo, mais ameaçados do mundo: a Mata Atlântica. Um projeto idealizado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) tem permitido o monitoramento das ocupações irregulares e desmatamentos ocorridos na região do Parque Nacional da Tijuca (RJ) e seu entorno. Batizada de Programa Integrado de Monitoria Remota de Fragmentos Florestais e de Crescimento Urbano no Rio de Janeiro (Pimar), a iniciativa utiliza imagens de satélite interpretadas por um software para identificar áreas ameaçadas e orientar ações de fiscalização e de políticas públicas.

Na primeira fase, os cientistas monitoraram uma área de 8 mil hectares, que abriga os quase 4 mil hectares do parque nacional mais a área urbana que o cerca, entre 2008 e 2009. Os resultados trouxeram boas notícias. Segundo os especialistas, nesse período, foram detectadas 646 áreas de mudança, equivalentes a apenas 5 hectares de desmatamento.

"O resultado do monitoramento foi bastante positivo. A área desmatada é pequena em relação ao todo pesquisado. Isso mostra que a gestão no local tem sido efetiva. É bom lembrar, também, que as modificações nem sempre ocorrem de maneira irregular. Isso porque, em determinadas situações, as árvores acabam gerando problemas", explica o professor responsável pelo Pimar, Luiz Felipe Guanaes.

Segundo Guanaes, os mapas gerados também podem servir como provas contra aqueles que ocupam áreas indevidas ou derrubam árvores ilegalmente. Os integrantes do programa têm feito reuniões com especialistas em direito ambiental para esse fim.

Para a observação da mata, o programa conta com imagens de satélite em alta resolução compradas de uma empresa norte-americana, que são classificadas de acordo com diversos quesitos, como água, floresta, afloramento rochoso, entre outros. Depois, as imagens de um ano são comparadas com as do ano seguinte. "Fazemos uma subtração geométrica dos polígonos classificados de um ano para o outro. O resultado é o que mudou naquele determinado espaço de tempo", destaca o professor.

Transformadas em mapas gerados numa escala de um para dois mil (cada centímetro do mapa equivale a 2 mil centí metros da realidade), compatíveis com os materiais já usados por órgãos gestores, as informações detectadas são confirmadas pelos especialistas in loco e posteriormente destinadas aos órgãos competentes. Além do Parque Nacional da Tijuca, o Pimar ainda monitora o Parque Estadual da Pedra Branca, também no Rio de Janeiro. E a ideia é estender o uso da tecnologia a todos os municípios que abrigam porções de Mata Atlântica.

Precisão

Para o Parque da Tijuca foram confeccion ados cerca de 70 mapas. De acordo com Guanaes, as imagens obtidas em 2010 mostram que, até o momento, não houve modificações significativas. O Pimar conta com o trabalho de uma equipe multidisciplinar. Além de geógrafos, participam da iniciativa engenheiros, especialistas em direito, entre várias outras áreas acadêmicas.

Segundo o chefe do parque, Bernardo Issa, o programa desenvolvido pela PUC tem a vantagem de analisar áreas que vão além dos limites da floresta. "As áreas do entorno acabaram sofrendo bem mais com a expansão urbana. Engana-se quem pensa que só os condomínios de classe média baixa invadem as áreas de mata. Para isso não há classe social. Os condomínios de luxo também acabam provocando os mesmos males", afirma.

Issa explica ainda que o levantamento é tão preciso que as imagens chegam a mostrar até mesmo as podas de árvores do parque. "Os mapas estão sendo importantes para a gestão da área. A iniciativa, que também pode ser estendida a outros municípi os, visa a conservação da Mata Atlântica. O desmatamento desse bioma começa aos poucos, por isso são necessários tantos cuidados", enfatiza o chefe do parque, vinculado ao Instituto Chico Mendes da Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

CB, 09/03/2010, Ciência, p. 24
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