FSP, Editoriais, p. A2 - 05/09/2010
Fogo cerrado
A savana brasileira, mais conhecida como cerrado, é um dos dois "hotspots" de biodiversidade do país, ao lado da mata atlântica. Isso significa que se trata de uma paisagem -ou "bioma", em linguagem ecológica- com grande número de espécies, muitas das quais só existem ali e se acham sob risco grave de extinção pela perda contínua de habitats.
No momento presente, a ameaça maior que paira sobre o cerrado é o fogo, que se propaga célere nessa vegetação aberta e sujeita a estiagens que abarca 24% do território nacional. A seca prolongada e a crescente demanda por commodities agrícolas fornecem combustível farto para alimentar queimadas desenfreadas.
No mês passado, os focos de incêndio multiplicaram-se por sete, em comparação com agosto de 2009. Sensores de satélites registraram 263 mil pontos de calor no território nacional, contra 36,8 mil no mesmo mês do ano anterior.
Entre as maiores vítimas estão unidades de conservação do cerrado, como o Parque Nacional das Emas. Ele perdeu 83% da vegetação para o fogo -ou 1.100 km2, uma superfície equivalente à do município do Rio de Janeiro.
A mata atlântica constitui o caso mais extremo de destruição entre os biomas nacionais. Restam somente 7% da floresta úmida que cobria o litoral brasileiro do Sul até o Nordeste e boa parte do interior do Sudeste.
A caatinga, único bioma exclusivo do Brasil, sofreu perda comparável (46%) à do cerrado. Como ele, padece com a imagem incorreta de paisagem pobre, desprovida de biodiversidade.
O cerrado paga o duplo preço de estar na rota da fronteira agrícola e de não ser tão célebre quanto a floresta amazônica. Esta mata, muito mais úmida e difícil de incendiar, perdeu fatia bem menor da área original (17%, contra 48% do cerrado), mas sua destruição causa mais controvérsia.
Já é hora de dar mais atenção para as outras paisagens ameaçadas. A Amazônia cobre meio Brasil, mas não é a única que importa.
FSP, 05/09/2010, Editoriais, p. A2
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0509201002.htm
Cerrado
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