Mangue do Cocó pode levar até 12 anos para se regenerar

Diário do Nordeste - http://diariodonordeste.globo.com - 19/11/2010
O incêndio que atinge o Parque Ecológico do Cocó, desde a última segunda-feira, deixou naquele ecossistema danos irreparáveis O geólogo Jeovah Meireles, professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que o fogo acabou fragmentando o ecossistema, mudando as características físicas e químicas do substrato de manguezal.

Para regenerar aquela área, projeta Meireles, pode-se levar de dez a 12 anos. "O fogo faz perder matéria orgânica, muda a química e a estrutura dos argilominerais, aumenta o índice de salinidade e ainda deixa o solo desidratado. Todas essas incidência irão dificultar na regeneração daquela área de manguezal", esclarece o especialista.

O professor alerta que esse acidente faz surgir a necessidade de se pensar ações preventivas e um controle eficaz do monitoramento do Parque, já que ele presta uma série de funções e serviços ambientais à Fortaleza. "Ameniza o clima da cidade; é um ambiente de lazer e um importante ambiente de biodiversidade". Meireles acrescenta que o fogo deve orientar políticas públicas para uma delimitação da maior área possível do Parque do Cocó.

Omissão

A responsabilidade pelo incêndio também pode recair sobre o poder público, por ter sido omisso na fiscalização. É o que acredita o advogado Aloisio Pereira, especialista em Direito Ambiental. Ele diz que se o incêndio foi culposo a pena é de detenção de seis meses a um ano.

Contudo, se for provocado, como ficou confirmado pelo Centro Nacional de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (Prevfogo), a pena é reclusão de dois a quatro anos, acrescido de multa. "Quando a gente fala de dano ambiental a penalidade pode ser feita nas três esferas: administrativa, cível e criminal, de acordo com a Lei de Crimes Ambientais", explicou.

O incêndio que se alastrou pelo Parque do Cocó teve um alcance menor do que pensava. Enquanto que o Ibama afirmara na quarta-feira passada que a área atingida era de dez hectares, ontem já se restringia a quatro hectares.

De acordo com o coordenador estadual do Prevfogo, Kurtis François Bastos, os dados colhidos por GPS e pelo monitoramento por vídeo apontam para uma área bem menor. "Essa é uma boa notícia, e se torna melhor ainda em saber que o mangue está preservado. As árvores mais atingidas são as chamadas invasoras, e que são fáceis de se regenerarem", afirmou.

Já o técnico do Prevfogo e engenheiro agrônomo Heraldo Pacheco disse que os danos ambientais são inestimáveis, mas chama a atenção o fato de que a fumaça é um problema sério de saúde para as pessoas.

"Temos que compreender que contamos com um floresta dentro de um perímetro urbano. Naturalmente, que a fumaça de incêndio se torna bem mais intensa quando se aproxima das áreas urbanizadas".

Ele sugeriu que, pelas dimensões do Parque e da necessidade de se manter maior controle, haja no futuro torres de observação, a exemplo do que acontece nas unidades federais de conservação, tais como as estações de Aiuaba, Ubajara e Araripe.

"Com essas torres, temos evitado muitos incêndios. Pois, observamos os primeiros sinais de fumaça, bem como também acompanhamos a entrada e saída de pessoas nos parques nacionais", disse Humberto.

Ele afirmou que o relatório deverá concluído em uma semana, mas reforça a tese de que se tratou de um incêndio criminoso, quer seja doloso ou culposo.

Unidade de conservação

O Parque Ecológico do Cocó está em processo de adequação ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc), de acordo com a Lei Federal N 9985, de 18 de julho de 2000, com proposta de denominação para Parque Estadual do Cocó. O ambientalista João Saraiva, um dos fundadores do movimento SOS Cocó, destacou a importância de ser feito um redimensionamento do Parque, aumentando as suas delimitações.

Ele defende que é o Parque do Cocó o responsável pelo controle do monoclima de Fortaleza. Sem falar na sua importância paisagística, disse, uma vez que propicia um equilíbrio físico e mental. "É desses manguezais que saem os nutrientes para o mar. É ele que absorve as águas da chuva, funcionando como drenagem, evitando inundações na cidade".

João Saraiva lembra que a bacia do rio Cocó abrange 2/3 de Fortaleza. Nasce no município de Pacatuba e vai até o bairro Caça e Pesca, em 45 km de extensão. "O Parque do Cocó é o nosso grande patrimônio ambiental. Ele é berçário para reprodução das espécies".


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