Dia de demissoes na Serra da Capivara

OESP, Geral, p.A14 - 30/04/2004
Dia de demissões na Serra da Capivara Fundação vai dispensar os 79 funcionários; construção de aeroporto na região começou ontem
EVANILDO DA SILVEIRA
A Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), criada pela arqueóloga Niède Guidon para estudar e manter o Parque Nacional da Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato, no Piauí, deve demitir hoje seus 79 funcionários. Com isso, a partir de amanhã, apenas três servidores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) tomarão conta da área de 100 mil hectares do parque, que abriga 735 sítios arqueológicos e paleontológicos e uma das maiores concentrações de pinturas rupestres do mundo e é considerado Patrimônio da Humanidade pela Unesco desde 1991.
Desde novembro, Niède vem reclamando da falta de repasse pelo governo federal dos recursos, relativos a parcerias e convênios que a Fumdham mantém com o Ibama e Ministério da Cultura (MinC). "O último repasse que recebemos foi de R$ 248 mil, em dezembro, do MinC", diz Niède. "Nós precisamos R$ 230 mil por mês para manter o parque. Sem dinheiro, tivemos de demitir."
Em vez de dinheiro, Niède tem recebido promessas e justificativas. Uma delas do Ibama. A coordenadora de Gerenciamento do órgão, Edilene Meneses, diz que já está pronto um termo de parceria, que será assinado entre Ibama e a Fumdham, para administrar o parque. "O documento está agora com a Procuradoria-Geral da República, para que sua validade jurídica seja analisada", explica.
Segundo Niède, ela também recebeu um telefonema de um assessor da Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República, Jaffeth Abrahão. "Ele foi gentil, explicou que não é só para nós que faltam recursos", revela. "De acordo com ele, há outros patrimônios sem recursos e gente passando fome no Brasil, mas não há dinheiro. Só para pagar os juros da dívida."
A Secom, por meio de sua assessoria, nega parcialmente o teor da conversa.
Diz que Niède é que a procurou em busca de patrocínio. Foi então que Abrahão, que está de licença para tratamento de saúde, teria explicado as dificuldades orçamentárias do governo e dito que o pedido de patrocínio dela seria analisado.
Aeroporto - Apesar da desilusão atual, Niède ainda tem esperança de que no futuro a situação do parque possa ser diferente. Uma antiga reivindicação sua pode ter começado a sair do papel. O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), assinou ontem uma ordem de serviço para início da construção do Aeroporto Internacional São Raimundo Nonato. As obras começaram ontem mesmo e deverão durar um ano.
Com o aeroporto, Niède espera a chegada de turistas. Se isso se tornar realidade, ela pretende atrair novos investimentos. "Já temos um acordo acertado com uma rede hoteleira italiana que pretende construir quatro hotéis na região", diz.
Por enquanto, no entanto, a arqueóloga continua descontente com o governo.
Numa carta aberta, divulgada ontem, Niède diz que o início das obras do aeroporto, "que deveria ser uma festa, é um paradoxo penoso". "Por um lado, damos os passos para o crescimento econômico da região, mas, por outro, o governo federal resiste em honrar seus compromissos internacionais com o Patrimônio da Humanidade."

OESP, 30/04/2004, p. A14
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