Fogo ameaça flora e fauna na Serra da Canastra em MG; combate continua

G1 - http://g1.globo.com/ - 10/08/2016
Incêndio já passa de uma semana; brigadistas e bombeiros estão no local.
Especialistas apontam riscos; visitação ao Parque Nacional continua.


O http://g1.globo.com/mg/centro-oeste/noticia/2016/08/incendio-na-serra-da-canastra-em-mg-ja-dura-quase-uma-semana.html que já dura mais de uma semana, segundo o Instituto Chico Mendes de preservação da Biodiversidade (ICMbio) tem ameaçado espécies importantes da flora e fauna do cerrado local, de acordo com especialistas. Brigadistas e bombeiros continuam combatendo as chamas. O ICMbio informou que o fogo já destruiu 12 mil hectares de vegetação no interior do parque.

De acordo com a Associação de Turismo da Serra da Canastra (Atusca), as visitas ao parque não foram prejudicadas pelas queimadas, pois não há focos de incêndios nas portarias I II e IV, que dão acesso às principais atrações do local como a nascente do Rio São Francisco, a cachoeira Casca D'anta e demais cachoeiras do entorno.


Combate

Uma equipe do Corpo de Bombeiros de Uberaba composta por 15 militares está na região desde sexta-feira (5) dando apoio aos brigadistas de Brasília e do Instituto Chico Mendes. Ainda não há previsão de retorno da equipe, como informou a assessoria do órgão. Como o local não oferece nenhuma condição para uso de caminhões tanque, o combate tem sido feito com abafadores e os militares usam viaturas leves como caminhonetes. Há ainda auxilio de aeronaves que combatem o fogo com água.

O Corpo de Bombeiros informou que a maioria dos focos de incêndio está nas partes mais altas da serra e portanto, são de difícil acesso. Por causa disso é necessário o apoio de helicópteros para realizar o deslocamento dos militares.


Espécies ameaçadas

Queimadas frequentes provocam danos irreversíveis tanto na flora quanto na fauna. Na Serra da Canastra habitam uma grande diversidade de animais que dependem especificamente do cerrado, como as aves. Há ainda espécies nativas de plantas que deixam de existir por conta do fogo. Cada incêndio trás junto preocupações iminentes de extinção de espécies raras, segundo pesquisadores.

Há cerca de dois anos a bióloga Mariana Vabo realiza um projeto de pesquisa para estudar a dinâmica do fogo sobre as aves, para embasar o plano de manejo de queimadas no parque. "Neste caso usamos as aves como indicadores. Com os estudos que temos já concluímos que há vários impactos para essas espécies e um dos maiores é que esse período de queimadas, o segundo semestre do ano, é justamente o período reprodutivo das mais de 400 espécies de aves encontradas na região. O fogo em proporções descontroladas queima muitos ninhos e isso prejudica totalmente a reprodução dessas aves", explicou.

Outro fator agravante é que o parque está localizado em uma das poucas áreas brasileiras cuja vegetação predominante é o campo de cerrado e assim existem espécies que são completamente depende desse tipo especifico de campo.

"Como essa vegetação vem sofrendo queimadas anuais de forma descontrolada, as interferências que já observamos é que as áreas onde já foram queimadas com maior constância, mais especificamente em locais fora de áreas de preservação, não apresentam mais determinadas espécies. Como exemplo de escassez podemos citar o galito, que é uma ave indicadora de qualidade ambiental, ameaçada de extinção. Também está escasso o caminheiro grande, o próprio pato mergulhão que vive na água e que portanto é diretamente afetado, pois suas águas dependem dessa vegetação no entorno para estarem preservadas", detalhou Vabo.

A especialista defende a necessidade urgente de manejo de queimadas no parque, visto que o fogo é proveniente de ação humana, seja proposital ou acidental. "Por esses motivos a gente apoia o manejo, para quando acontecerem as queimadas, não tomar proporções catastróficas. É preciso também trabalhar pesado com a educação ambiental nas propriedades particulares e que as pessoas sejam assistidas pelo órgão competente. Dessa forma os aceiros das particulares devem ser feitos nas áreas corretas e nas épocas corretas para que não invadam as áreas de preservação ambiental. Que fique claro, ninguém está negando essa cultura do fogo, contudo é preciso que seja controlado", finalizou.

Jean Pierre Santos também é biólogo e pesquisador do Instituto Pró-Carnívoros. Ele e uma equipe de especialistas monitoram o lobo-guará na região há quase 20 anos. Segundo ele, os danos causados pelo fogo são devastadores para o animal. Isso porque as chamas consomem toda reserva alimentar do lobo e mata os que não têm condições de fugir das linhas de fogo.

"Os danos são catastróficos pois começa destruindo toda reserva de alimentos como os frutos do cerrado, matam presas desses lobos como os roedores e as aves. Outro péssimo agravante é o período reprodutivo, pois se houver lobos em tocas, esses pequenos animais não têm a destreza de saírem da linha do fogo e acabam sendo vítimas do incêndio", contou.

Ainda segundo Jean Pierre, os prejuízos ocorrem em cadeia e desde que são queimadas as bases da cadeia alimentar, consequente os grandes predadores sofrem com as graves sequelas dessa ação. "É inevitável não sofrer com esses incêndios. Já vi lobo-guará pular faixas de fogo e é de cortar o coração. Além do lobo, o tamanduá-bandeira é o animal que tem o maior prejuízo com essas queimadas, isso porque ele anda muito devagar, não enxerga muito bem e tem o pelo muito grande. Ás vezes eles estão em uma área e tentam se locomover, mas por conta da pouca agilidade o fogo o cerca e é inevitável, acabam morrendo queimados. O que não é diferente para os répteis que também não conseguem fugir ", explicou.


Turismo

Por não estar próximo às áreas de visitação o fogo não tem prejudicado o turismo, como aponta Daniela Labonia, diretora da Associação de Turismo da Serra da Canastra (Atusca). "Por horas o turismo continua normal. Há inclusive um movimento intenso de turistas que ainda estão aproveitando as férias. Muitos do Rio de Janeiro, que se deslocaram por conta da Olimpíada. Portanto, todos os passeios continuam normais. O que a associação e todos esperamos é que não haja fogo nessas áreas de acesso aos pontos turísticos".

Daniela Labonia destaca ainda que existe uma política de preservação severa nas áreas visitadas do parque a fim de evitar queimadas e qualquer tipo de degradação. Todos os guias são treinados para que passem aos turistas o sentimento de defesa pelo meio ambiente.

"Uma das ações que funciona há bastante tempo na região é realizar os passeios em carros abertos para que os turistas apreciem e façam as fotografias de dentro do veículo. Isso evita que eles pisem e invadam o campo, ou mesmo joguem bitucas de cigarros na vegetação seca. Estando todos dentro desses carros abertos fica mais fácil para o guia controlar os visitantes, visto que eles são treinados para isso", destacou.

"Ressalto que, mesmo não havendo focos nas áreas de acesso aos principais pontos da Canastra, toda a Associação se solidariza e se entristece muito com esses incêndios frequentes, pois somos defensores de todo ecossistema e também sofremos em ver o cerrado, uma vegetação quase extinta, sendo queimada e animais também quase extintos, tendo que fugir do calor ou mesmo morrendo", acrescentou a diretora.



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